“Museu” provém
de “Musa”. Originalmente, “musa” significa “conhecimento”. Tanto os poetas
quanto os filósofos pré-socráticos evocavam as Musas para auxiliá-los na
seguinte tarefa: vencer o esquecimento daquilo que não pode ser esquecido.
Assim, o conhecimento das Musas não é só intelecto ou razão, ele é , também, recordação: “re-cordis”,
“trazer de novo ao coração”, como lugar do Afeto.
As Musas
expressavam a memória do que não pode
ser esquecido. No mito, as Musas são filhas de Zeus , divindade ligada à
justiça e à ética, com Mnemósyne, Deusa da Memória. Zeus uniu-se a Mnemósyne após uma guerra vencida por ele contra
as forças da barbárie vinculadas à ignorância em seus variados aspectos. Dessa
união entre a ética e a memória nasceram as Musas, divindades da cultura e do
patrimônio. Assim, todo patrimônio
cultural nasce do matrimônio gerador de
uma ética da memória, de uma memória da ética.
A cultura não
existe apenas para relembrar algo que se deu no passado e passou. A cultura
existe para fazer lembrar e dar a
conhecer que se é possível vencer a barbárie da violência física e simbólica.
Foi este acontecimento a origem do museu: a luta contra a ignorância, que
apenas o intelecto sozinho não pode vencer. Não a ignorância em relação a datas
e regras, mas ignorância acerca do que é a justiça, a ética, a beleza, a
natureza, enfim, a vida. É esse acontecimento que dá ao museu o seu sentido.
Mesmo que destruam todos seus prédios , não podem destruir sua ideia geradora.
Na singela foto ,
vemos a bailarina em seu gesto eterno imortalizado nas tintas. Na menininha, esse
gesto renasce, outro. Ele renasce em seu corpo, em seu jeito: a criança
interpreta, dançando, o que é dançar , reinventando o dançar à sua maneira. Que
a pequenina Musa, em sua inocência brincativa,
nos ajude a não esquecer o que precisa ser sempre lembrado: que é
possível vencer, com cultura e conhecimento, a barbárie e suas várias faces.
Nenhum comentário:
Postar um comentário