sábado, 1 de setembro de 2018

manoel, eros & psiquê

(Afrodite manda chamar  Eros, o Deus do Amor, que era seu servo. Dirigindo-se a Eros, Afrodite ordena) :"Quero que você vá onde vivem os homens, encontre uma jovem chamada Psiquê ( Alma)  e atravesse o coração dela com sua flecha . Faça Psiquê se apaixonar pelo homem mais pobre, burro e feio que houver em toda Grécia..."
O Amor nunca havia visto antes a Alma. Afrodite esquecera-se desse detalhe, pois o que poderia acontecer nesse encontro entre o Amor e a Alma? Apenas ouvir  falar da Alma não é conhecê-la. A Alma somente pode ser conhecida diretamente, sem intermediários. Então, o Amor achou  a Alma, Eros conheceu Psiquê... O Amor sentiu nascer dentro dele um outro, esse outro era o Amor mesmo,  porém  potencializado, mais amor do que nunca.  Enquanto o amor por  Afrodite ( símbolo da beleza do Corpo) submetia Eros a caprichos narcísicos exigidos pelo ser amado, esse amor nascido do encontro com a Alma o fazia voltar-se para si mesmo e descobrir  um desejo que não se esgota na posse e no imediato .O Amor percebeu então que ele podia ser reinventado, experimentar uma nova maneira de ele ser . E que ele próprio, o amor, desconhecia tudo o que o amor pode.  A união dele com o Corpo era exterior ; contudo, o Amor sentia que para  se unir à Alma ele deveria morar dentro dela: cada um seria no outro, sem carência ou falta. Psiquê não está nos céus, nem no Olimpo, nem nos livros. Ela vive dentro do homem. Ela nasceu ninguém sabe como, pois onde menos se espera , mesmo no meio da indigência e da miséria, ali  nasce ela, pondo no mundo um novo poeta. Ela não nasceu divina, nasceu humana. Mesmo  assim   fez nascer no Amor um ser novo, que era o Amor mesmo com  olhos outros, diferentes, capazes de verem  o que se esconde de belo nos homens, apesar de toda feiura que eles frequentemente são, dizem  e fazem.

Se a gente não der o amor, ele apodrece dentro de nós” (Manoel de Barros)   



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