Ao Dia
internacional de Luta das Mulheres ( 8 de março e todos os dias)
Em grego,
“Sofia” é “Sabedoria”. Não se deve confundir “Sofia” com “Razão”.
A palavra “Razão” em grego é masculina
(“Logos”) e tinha em Zeus um dos seus símbolos.
Porém
Zeus não era a Sabedoria, pois Sofia é filha de Zeus com
Métis. Por possuir muitos dons e capacidades, Métis era conhecida
como a deusa das “habilidades”. Não a habilidade
meramente técnica, mas habilidade no sentido de produzir ,
além de ideias, um querer e um agir múltiplo e criativo.
Métis também
estava associada à noção de “saúde” enquanto cuidado
consigo e com os outros. A palavra “caute” , base da Ética de Espinosa, provém
dessa habilidade médico-curativa . Pois de “Métis” também vem “meticuloso” , no
sentido do cuidado (“caute”) que caracteriza o bom médico ( tanto os
médicos do corpo quanto os médicos da alma, os pensadores-artistas).
Uma das
características de “Métis” é que ela era capaz de metamorfoses, de devires. Ao
enamorar-se com Métis, Zeus buscou na
metamorfose dela um processo para renascer também.
Agenciada com
Métis , a própria Razão potencializou-se para lutas que
ela não tem como vencer sozinha, lutas para enfrentar a ign0rância em suas
diversas formas. Fortalecida, a Razão aprendeu habilidades que a pura razão teórica não ensina.
As habilidades de Métis são artes que unem o
pensar ao agir. E foi desse agenciamento mais afetivo do que teórico , mais
artístico e poético do que acadêmico, que nasceu então Sofia, também
conhecida como “Atena”, filha de Zeus com Métis.
Os teóricos da Razão inspiram-se
em Zeus, mas os pensadores-artistas são apaixonados por Sofia: e por
essa paixão não apenas pensam, como também agem e criam.
Na lut4 contra a
ign0rância e a obscurid4de, ontem e hoje, a Razão não vence sozinha: é preciso
que a acompanhe Sofia. Às vezes, é a própria Sofia que salva a Razão de si
mesma , fecundando nela sensibilidade e vida,
impedindo assim que a Razão fique dogmaticamente estéril, rígida.
Segundo
Nietzsche, hoje a filosofia atende por outro nome, um nome
feminino também : “Ariadne”, nome que significa “aranha”. Pois Ariadne é tecedora de
fios, fios que ela tira de seu próprio ventre, como a “linha de fuga” ensinada
por Deleuze .
Ariadne simboliza
a necessidade de um fio que nos agencie,
um fio trançado com Ideias libertadoras e Afetos regeneradores,
como mãos que
se seguram umas às outras na luta e
resistência ante toda forma de tir4nia, mãos de Sofia e Ariadne unidas às mãos de Dandara, Eunice, Fernanda, Clarice,
Marielle...
Esse fio-agenciamento
que une e salva ganha vida na voz de Elza Soares:
“Eu não vou
sucumbir
Eu não vou
sucumbir
Avisa na hora
que tremer o chão
Amiga, é agora,
segura a minha mão”.
( Trecho da
música “Libertação”)
(Imagem: a pequena Sofia)
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