quinta-feira, 27 de março de 2025

Ainda estamos aqui

 

Após derrotar as forças obscuras associadas  ao ódi0, à ving4nça e  à violênci4 , Zeus , divindade associada à ética e à justiça, decidiu  casar-se com Mnemosyne , a divindade  da Memória.

Desse enlace entre a ética, a justiça e a memória nasceram as Musas, divindades das Artes. As artes não são apenas para distrair ou entreter, pois elas nasceram do agenciamento entre  a justiça , a ética e a memória  para cantarem juntas a vitória de Zeus sobre as forças da obscurid4de.

Nesse sentido originário, não  apenas a poesia, o canto, a música , o teatro ...são artes. Tornar a vida digna, justa, solidária , potente...isso também requer arte, talvez a mais necessária delas: a arte cuja obra a criar é a nós mesmos, individual e coletivamente.

O filme “Ainda estou  aqui” possui  esse sentido originário de uma memória da ética, de uma ética da memória, como instrumento da justiça social que dá sentido às lutas políticas igualitárias, não somente as de ontem, mas sobretudo as de aqui e agora.

Em seu livro 1984, Orweell nos mostra que um dos objetivos de todo totalit4rismo é apagar a história, ou (re)escrevê-la de forma deturpada ( como tenta fazer hoje  a Brasil Paralelo e suas fake news ameaçando nossas escolas...).

Não por acaso,  Alexandre de Moraes e Flávio Dino citaram ontem na fundamentação de seus votos  a questão da memória como elemento constituinte da defesa  da ética e da justiça, uma memória que deve não nos deixar esquecer não apenas os atos vis da b4rbárie, mas também que se pode vencê-la, se em torno da ética e da justiça nos agenciarmos.  Dino, inclusive, cita o filme “Ainda estou aqui” como exemplo dessa implicação imanente entre arte e justiça.

Não só a justiça feita por juízes, mas sobretudo aquela que deve ser mantida viva por nós mesmos enquanto justiça social da qual todos nós , enquanto estivermos aqui, somos os atores.

No julgamento de ontem, dava vida a essa memória a presença  dos parentes ( como Hildegard Angel e Ivo Herzog)  dos desaparecidos e mortos pela ditadura, que agora, enfim, estará onde merece: no banco dos réus.

Em sentido seu originário , cada obra de arte é um canto que celebra e co-memora, cria memória, daquilo que não nunca pode ser esquecido: que a b4rbárie pode ser derrotada.


@sem anistia!







 

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