sábado, 15 de março de 2025

A tocha de Eros

 

Na mitologia, Eros, o Amor, era representado portando uma flecha. Essa imagem de Eros com a flecha se torna comum a partir do Helenismo. Mas pouco é mencionado  que Eros também trazia consigo uma tocha.

A flecha era para atingir o coração. Não era, portanto, uma flecha bélica, não era uma flecha que mirava “calcanhares”, como aquela que vitimou Aquiles em seu ponto fraco; tampouco era uma flecha para m4tar , como aquelas flechas cov4rdes que crivaram São Sebastião , o padroeiro do Rio de Janeiro ( hoje, essas flechas ass4ss1nas são as balas que vitimam os moradores das favelas e periferias da cidade de São Sebastião...).

A flecha de Eros era semelhante à agulha de uma vacina: assim como a vacina inocula o remédio, a flecha de Eros inocula o amor transmutador no coração que ele atinge.

Mas enquanto a flecha se endereça apenas ao coração , a tocha do Amor ilumina por dentro o ser inteiro que ela inflama, pois essa tocha simboliza a ardência da paixão.

 E os seres que mais ardem com a chama dessa tocha são aqueles que também emanam luz, como se tivessem “um sol dentro de si”, como dizia Nietzsche. Quem traz um sol assim ilumina em torno e mostra caminhos , mesmo que ao redor haja trev4s.

Essa paixão gerada pela tocha de Eros-Amor nada tem a ver com o sentido restrito da “paixão romântica”, uma vez que se trata de uma paixão no sentido mais amplo, como a do pintor que se apaixona pelas tintas, ou do músico que se apaixona pelo som , ou do poeta que se apaixona pela palavra, ou do revolucionário que se apaixona pela transformação do mundo.

Quando o clarão  da paixão irradia  dos seus olhos apaixonados e ilumina as tintas, o pintor vê nelas girassóis  ainda por criar, ainda por nascer, como viu Van Gogh. Quando o lume da paixão ilumina as palavras, o poeta vê nelas outros “mundos por transfazer”, como viu  Manoel de Barros.

Enfim, quando a tocha da paixão incandesce de Vida as ideias, ganha realidade   o processo transformador descrito   pelo educador Paulo Freire: “Só desperta a paixão por aprender quem tem a paixão por ensinar”.  


(este livro de Clarice é apenas uma sugestão)







Este é um bom documentário sobre Manoel de Barros e sua "paixão pela palavra": 





Nenhum comentário: