sábado, 1 de março de 2025

Dioniso - o triunfo da Vida

 

Uma das origens do carnaval remonta a Dioniso, o deus das artes. Porém, a palavra “deus” não é muito adequada para traduzir o universo poético-literário dos mitos, já que se costuma imaginar deus como existindo antes de sua obra, e sendo dela diferente.

Na mitologia, contudo, não havia o Amor  antes de surgir  Eros , também inexistia  o Conhecimento antes de nascer Atena, ou as Artes antes do aparecimento de Dioniso.

É por isso que Jean-Pierre Vernant, um grande estudioso do assunto,  prefere empregar o termo “Potência” ao abordar os mitos, em vez da palavra “deus”.

Na filosofia, as palavras “potência”  e “possibilidade” são primas, e ambas se opõem à ideia de “forma” ( como algo fixo e limitado).  A Potência expressa a inseparabilidade entre o artista e sua obra, a união entre arte e existência.

Assim, Eros é a Potência do Amor . Não há uma forma única de amar:  enquanto Potência , o Amor pode ser vivido e (re)criado de mil maneiras.

Como Potência, o Conhecimento não está apenas na forma-livro :  os objetos de uma exposição também trazem a possibilidade de aprendermos com eles.

Os romanos chamavam Dioniso de “Baco”. Em grego, “bacchus”  significa “embriaguez” .Mas antes de se embriagar com o vinho, Dioniso já se embriagava com a água que ele bebia das fontes, ou com o perfume que ele inalava das flores.

Quando Dioniso era ainda criança, c4rrasc0s ressentidos o despedaçaram por v1ngança, imaginando assim que o derrotavam.

Sabia-se que Dioniso tinha uma metade humana e outra metade divina, uma metade mortal e outra que nunca morria. Mas qual era a parte divina dele? Ninguém sabia...Exceto Zeus.

Zeus pegou então o coração de Dioniso e do coração  o partejou, pois Dioniso estava ali  inteiro . Era o coração, sede da coragem perseverante  e do afeto regenerador,  a parte onde é mais potente a  Vida.

Isso explica seu nome: “Di-oniso: aquele que nasceu duas vezes”. Na primeira vez , Dioniso nasceu chorando, como todo recém-nascido; mas no segundo nascimento  Dioniso (re)nasceu em alegria pelo triunfo sobre os c4rrascos da vida.

Essa  alegria potencializava ainda mais a existência  , tal como aquela alegria ensinada por Espinosa.

A alegria dionisíaca era semelhante a uma embriaguez.  Não a embriaguez por excesso  etílico,    mas   embriaguez  pelo excesso de vida transbordante . Pois a primeira das artes que Dioniso ensina é a arte de renascer ainda mais potente quando os poderes necr0polític0s nos querem vencidos.

Manoel de Barros, ébrio de poesia , chama  de “deslimite” a essa Potência que não deixa  morrer a vida: “Na ponta do meu lápis há apenas nascimento”, diz o poeta de vida embriagado. Como ensina Foucault, um pouco do  “ar do possível”, para não sufocarmos.

O poeta Baudelaire traduz assim a embriaguez dionisíaca: “É preciso embriagar-se...Mas, com quê? Com vinho, poesia ou virtude , a escolher. Mas embriaguem-se!”

 

(este livro é apenas uma sugestão)



















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