Na mitologia, Cupido
, o Amor, tinha uma arma. Mas engana-se quem pensa que a arma do Amor-Cupido era
apenas a flecha que ele desferia.
Além disso, a
flecha do Amor-Cupido nunca era uma arma da violência e da morte, ela nunca
mirava “calcanhares”, como fez aquela flecha desferida pelo inimigo de Aquiles,
flecha que mirou e acertou seu “calcanhar”, para assim se aproveitar do que há
de fraco , mesmo nos fortes.
Tampouco
Eros-Cupido atirava flechas para matar , como as muitas flechas que atiraram os
carrascos de São Sebastião, padroeiro do Rio. Hoje essas flechas são balas que
continuam a matar seus filhos, sobretudo os pobres, pretos, excluídos.
Eros-Cupido
lançava apenas uma flecha. Uma flecha
apenas bastava, pois sua flecha única tornava singular a quem ela atingia. Porém
, essa flecha era como um cinzel , uma ferramenta para produzir
metamorfose, como as mãos do escultor ao mármore.
A flecha-cinzel
tinha como alvo o coração, e apenas a
este. A flecha parecia que feria, mas era como o faz a agulha da vacina : para curar e fortalecer,
imunizando.
Eros-Cupido
atingia o coração para fazer deste uma arma sua. Era o coração , portanto, a arma verdadeira que Eros-Cupido
desejava: a flecha era apenas um cinzel para esculpir a arma autêntica do amor.
No coração atingido
pela flecha-cinzel do amor era esculpido
um escudo, e um escudo o coração inteiro se tornava . A verdadeira arma do amor
é um escudo como símbolo do cuidado, que Espinosa em sua Ética colocou como base de sua filosofia , designando esse cuidado pelo seu nome latino: "caute".
Mas ao contrário
dos escudos costumeiros que protegem
apenas o seu portador, e mesmo o escudo da Inteligência-Atena é assim, o escudo
do amor protege dos dois lados: protege quem com ele se arma e também aquele
que quer atacá-lo.
Não por acaso, em
sua Ética Espinosa assim chama o desejo: Cupiditas, a potência de Cupido. E a
maior virtude que nasce do desejo é a fortitudo, a fortaleza-escudo. Na
língua banto, fortitudo se chama “quilombo”, que é o escudo ético-político que,
ontem e hoje, protege os que enfrentam as tiranias.
Este livro é apenas uma sugestão:
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