domingo, 16 de fevereiro de 2025

Nise & Espinosa

 

Ontem, 15 de fevereiro , foi o dia de nascimento da grande Nise da Silveira. Segue uma pequena homenagem:

Nise da Silveira  dizia que nossa saúde mental , ou a falta dela, depende  mais do que fazemos com nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa mente .

Esse pensamento de Nise me lembra Espinosa . Depois de filosofar sobre o Infinito empregando a potência de sua mente, Espinosa sentia a necessidade de  empregar  suas mãos para polir cuidadosamente  lentes, como um simples artesão.   Vinha gente de longe para comprar as lentes, tal a qualidade delas. Mas Espinosa vendia somente o necessário para sua sobrevivência: suas mãos eram felizes em polir, não em contar dinheiro.

Creio que isso também explica a famosa frase de Espinosa: “Ninguém sabe tudo  o que pode um corpo.” Não apenas o corpo cuja uma das partes é a mão, pois o corpo de que fala Espinosa tem um sentido amplo e variado.

Por exemplo, o corpo do palavra. Ninguém sabe tudo o que pode o corpo da palavra antes de ela ser  empregada como  veículo de expressão educadora-emancipadora.

Ninguém sabe tudo o que pode o corpo social quando se agencia , democrática e coletivamente, para não se deixar dominar por tir4nias. 

Ninguém sabe tudo o que pode um corpo, seja ele qual for, até alguém  ousar criar realidade nova empregando esse poder, essa potência.

Ninguém sabe tudo o que pode um fio, um simples fio aprisionado em um tecido, na forma acostumada de uma roupa, de um uniforme. Consegue  descobrir tudo o que pode o corpo de um fio aquele que  não veste uniformes e tem a alma nua, às vezes ao preço da dor,  como Arthur Bispo do Rosário.

Desfazendo a forma das roupas e uniformes com os quais o poder excludente o vestia,  Bispo do Rosário  desconstruiu  essas fôrmas , fôrmas físicas e simbólicas, até (re) descobrir o fio livre que ali estava preso.

Com sua mão sendo o instrumento para libertar criativamente sua mente,  Bispo do Rosário reinventou  um Fio de Ariadne para bordar com ele as asas de sua   linha de fuga. É nas asas feitas com o fio  do afeto emancipador que   nossa mente  se liberta e se  horizonta .

 

( imagem: o livro de Nise, tive a alegria de participar do lançamento dessa nova edição, e Bispo do Rosário com seu “Manto”: aberto, o manto lembra  as asas metamórficas de uma borboleta...)


(A foto de cima de Bispo do Rosário que empreguei é de autoria de Walter Firmo, e a foto com o manto aberto está no Museu Bispo do Rosário) 

 




Nenhum comentário: