Ontem, 15 de
fevereiro , foi o dia de nascimento da grande Nise da Silveira. Segue uma
pequena homenagem:
Nise da
Silveira dizia que nossa saúde mental , ou a falta dela, depende
mais do que fazemos com nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa
mente .
Esse pensamento
de Nise me lembra Espinosa . Depois de filosofar sobre o Infinito empregando a
potência de sua mente, Espinosa sentia a necessidade de empregar
suas mãos para polir cuidadosamente lentes, como um simples
artesão. Vinha gente de longe para comprar as lentes, tal a
qualidade delas. Mas Espinosa vendia somente o necessário para sua
sobrevivência: suas mãos eram felizes em polir, não em contar dinheiro.
Creio que isso
também explica a famosa frase de Espinosa: “Ninguém sabe tudo o que pode
um corpo.” Não apenas o corpo cuja uma das partes é a mão, pois o corpo de que
fala Espinosa tem um sentido amplo e variado.
Por exemplo, o
corpo do palavra. Ninguém sabe tudo o que pode o corpo da palavra antes de ela
ser empregada como veículo de expressão educadora-emancipadora.
Ninguém sabe
tudo o que pode o corpo social quando se agencia , democrática e coletivamente,
para não se deixar dominar por tir4nias.
Ninguém sabe
tudo o que pode um corpo, seja ele qual for, até alguém ousar criar
realidade nova empregando esse poder, essa potência.
Ninguém sabe
tudo o que pode um fio, um simples fio aprisionado em um tecido, na forma
acostumada de uma roupa, de um uniforme. Consegue descobrir tudo o que
pode o corpo de um fio aquele que não veste uniformes e tem a alma nua,
às vezes ao preço da dor, como Arthur Bispo do Rosário.
Desfazendo a
forma das roupas e uniformes com os quais o poder excludente o vestia,
Bispo do Rosário desconstruiu essas fôrmas , fôrmas físicas e
simbólicas, até (re) descobrir o fio livre que ali estava preso.
Com sua mão
sendo o instrumento para libertar criativamente sua mente, Bispo do
Rosário reinventou um Fio de Ariadne para bordar com ele as asas de sua
linha de fuga. É nas asas feitas com o fio do afeto emancipador que nossa mente se liberta e se horizonta .
( imagem: o
livro de Nise, tive a alegria de participar do lançamento dessa nova edição, e Bispo
do Rosário com seu “Manto”: aberto, o manto lembra as asas metamórficas de uma borboleta...)
(A foto de cima de Bispo do Rosário que empreguei é de autoria de Walter Firmo, e a foto com o manto aberto está no Museu Bispo do Rosário)
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