O CORAÇÃO, O DESEJO E A RAZÃO
Aquiles vai à frente
e puxa os demais.
Heitor também está à frente,
para proteger quem está atrás.
Um é amigo da guerra,
o outro o é da paz.
E tudo no mundo para,
para ver quem pode mais:
eles lutam não apenas no campo de batalha,
eles se enfrentam também no dos ideais.
Aquiles salta,
Heitor tem os pés no chão.
Aquiles ama a morte,
Heitor ama o irmão.
Se em Aquiles a poesia aos Deuses exalta,
em Heitor ela é obra da humana condição.
Morre Aquiles para viver na glória.
Morto foi Heitor em defesa de sua memória.
Quis Aquiles o extremo sem comparação.
Quis Heitor apenas a medida do coração.
Entre ambos havia uma muralha:
para o primeiro, um obstáculo;
para o segundo, uma proteção.
De longe os espreitava Ulisses,
o homem da ardilosa razão.
Ulisses não tinha a coragem de Aquiles,
tampouco de Heitor a gratidão.
Sua arma era o cálculo,
a frieza da abstração.
E lá onde os corações ardendo se batem,
Ulisses dissimula sua fria ambição:
enquanto morrem os autênticos em combate,
esquivo foge Ulisses com o ouro na mão.
esquivo foge Ulisses com o ouro na mão.
******** ******** ********
A PAISAGEM
Queria lhe mostrar a paisagem,
a única paisagem que há.
Embora única, ninguém a pode medir ou contar.
Ela está à frente,
atrás,
dentro e fora.
Ninguém a cerca,
ninguém é seu dono;
e para percorrê-la só a amando,
somente desejando livre passear.
É ela que nos circunda quando a noite ameaça,
Ninguém a cerca,
ninguém é seu dono;
e para percorrê-la só a amando,
somente desejando livre passear.
É ela que nos circunda quando a noite ameaça,
é dela o ar que enviva o que se move e o que voa.
E quando tudo ao redor se afasta,
ela é a única que fica e perdoa.
E quando tudo ao redor se afasta,
ela é a única que fica e perdoa.
Na doença, ela te cura;
na tristeza, ela te alegra;
na fome, ela te alimenta;
na morte, ela te faz renascer.
Não importa se é dia ou noite:
ela se estende igual.
Não importa se chove ou faz sol:
nada a nega, nada a pode desfazer.
Queria lhe mostrar essa paisagem.
Queria lhe fazê-la viver.
Mas não se pode descrevê-la,
não se pode representá-la,
só a poesia a faz aparecer.
Ela é evidência e obscuridade,
clarão e recolhimento,
palavra e silêncio,
tempo e eternidade.
E ainda mais:
ela não coincide com esses extremos,
pois ela vive no meio.
E a partir daí se amplia,
idêntica à novidade.
A criança a faz brincando.
O pássaro a ensina voando.
A rosa a mostra exalando.
O sábio a diz se calando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário