Certa vez, uma turma muito gentil e
simpática comigo me perguntou qual dos mitos gregos eu mais gostava. De pronto,
eu disse: “Dioniso”. Muitos então perguntaram : “É o deus das artes, não é
professor?” Aproveitei para fazer a
seguinte observação:
Não é muito adequado falarmos : “Dioniso,
deus das artes”, “Eros, deus do amor...”. O problema está na palavra “Deus”
quando aplicada àquele mundo poético-filosófico.
Quando ouvimos a palavra “Deus” sempre
imaginamos um Ser que , do nada, criou a realidade de tudo o que existe. Mesmo quem
não tem religião imagina Deus como um ser assim.
Porém, Dioniso, Eros, Perséfone...não
possuíam esse sentido
teológico-religioso, segundo o qual Deus existe antes de sua obra.
Eros não existia antes do amor,
Dioniso não existia antes das artes, Perséfone não existia antes da primavera.
Eros é o amor em suas diversas maneiras. Dioniso é as artes em suas variadas
expressões. Perséfone é a primavera em seus vários sentidos, inclusive como primavera política: a primavera como
irrefreável processo de renovação.
Assim, o melhor nome para se aplicar a
Dioniso, Eros, Perséfone...não é Deus ou Divindade, mas Potência. Dioniso é a
Potência das Artes, Eros é a Potência do Amor, Perséfone é a Potência da
Primavera.
Potência não é a mesma coisa que
Poder. O Poder visa sempre dominar e controlar, ao passo que a Potência é
criação , libertação .
A palavra Potência é prima de “Possibilidade”.
O contrário de Potência é “Forma”. Ao longo da história, houve várias formas de
se viver o amor, cada uma dessas formas se achando a forma única de amor, a
forma “normal”. Mas a o Amor enquanto Potência vai além das formas , e se
reinventa de maneira diferente em cada
época histórica. Enquanto potência, o amor não é uma única forma de amar, pois variadas
maneiras de amar pode o amor, basta criar.
Dioniso não é exatamente a pintura, a música ou a escultura enquanto
formas de arte, Dioniso é a arte enquanto potência de reinventar a própria
vida.
Quando criança , Dioniso foi
despedaçado por seus carrascos, que assim imaginaram que o haviam derrotado. Dioniso
era parte ser humano e parte imortal . Qual era a parte imortal nele? Qual era
a parte que nunca morria?
Zeus sabia que essa parte imortal era o
coração. Zeus pegou então o coração de Dioniso-Criança e dele recriou novamente Dioniso. Isso explica
seu nome: “Di-oniso”, “aquele que nasceu duas vezes”.
Na primeira vez que nasceu, Dioniso veio ao
mundo chorando, como todo recém-nascido; mas ao renascer do coração Dioniso
ressurgiu sorrindo, como triunfo da vida imortal sobre seus carrascos.
Que as Potências libertárias das
Artes, do Amor e da Primavera nos acompanhem , protejam e fortaleçam para nosso
triunfo contra o fascismo neste 2 de outubro.
#lulanoprimeiroturno👍
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