A palavra “teologia” aparece entre os
filósofos pré-socráticos. Antes deles , já existia a palavra “teogonia” , que
nomeia o poema de Hesíodo. Nesse poema originário é narrada a origem dos deuses,
a começar por Gaia, a Terra-Mãe.
Mas o uso que se faz hoje da palavra “teologia”
remete a três religiões calcadas num texto
considerado sagrado por elas: o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo; o
Alcorão, a Torá e a Bíblia. O estudo desses Livros é tarefa da teologia.
A “política”, por sua vez, vem do
termo “pólis”, que significa tanto “cidade” como “organização” ( “pró-polis”: “
a favor da organização”, já que a própolis , como uma vacina, protege a colmeia
enquanto “organização” das abelhas). Pólis é a organização conjunta das
liberdades, para assim construir o viver em comum, preservando a
heterogeneidade dos viveres. No centro da pólis não estão Castelos ou Templos,
embora a base de toda pólis também seja um livro. Um livro que também é objeto
de uma “fé”, não uma fé religiosa, mas uma fé na liberdade, na criatividade, na
ciência, na cultura , na educação, pois essas atividades também são “instituições”.
Ao contrário dos Textos Sagrados, o texto que serve de base à pólis pode ser
reformado ou até mesmo abandonado em nome de outro texto mais libertário, desde
que assim decida a sociedade, após debate, argumentação, divergência dialogada e votação. O texto que fundamenta a pólis é a Constituição. Essa palavra significa: “o
que é instituído junto”, e que apenas por um querer junto, afirmador da pluralidade,
pode ser destituído. A Constituição deve preservar a diversidade, inclusive a
diversidade de crenças religiosas, além de proteger também aqueles que não têm
crenças religiosas.
O poder teológico é um poder que tem
seu campo de atuação restrito ao templo. Porém, acontece por vezes de tal poder usurpar esse espaço de
culto, querendo se tornar também poder político. É assim que nasce o que
Espinosa chama de poder “teológico-político”. Para triunfar, esse tipo de poder
perseguirá como inimigo tudo aquilo que a Constituição democrática simboliza. É
por isso que o poder teológico-político somente pode perdurar cooptando exércitos
e polícias. Esse tipo de poder também costuma se juntar aos que fazem do Capitalismo
e do Mercado um Deus, a tal ponto que a “prosperidade” econômica individual passa a ser valor cultuado como se fosse um Dogma.
Mas é do inimigo que esse poder mais
persegue que também vem a maior força que resiste a ele: o pensar, o pensar que
enseja ações coletivas para proteger a vida comum.
“Onde há o perigo, cresce também o
que salva. ”( Hölderlin)
( imagem: “O geógrafo”, de Vermeer.
Segundo alguns, o personagem do quadro é o próprio Espinosa, assim retrato como
um “geógrafo do pensamento”, pois “geografia” originariamente significa : “escrita
de Gea / Gaia.”)
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