sexta-feira, 5 de abril de 2019

manoel e a não velhez


O poeta Manoel de Barros já passava dos 80 anos quando um editor  pediu que ele escrevesse  três memórias: da infância, da vida adulta e da velhice. Afinal, quem chega aos 80 anos parece que tem muito a  falar de si...Depois de algum tempo, o poeta enviou ao editor o seguinte livro: “Memórias da primeira infância”. Meses depois, nova publicação: “Memórias da segunda infância”. Após novo intervalo, outra obra nasceu: “Memórias da terceira infância”. Como as memórias da vida adulta e da velhice não apareciam, Manoel foi indagado a respeito, e assim o poeta  respondeu: “ só tive infância, não tive velhez: só narro meus nascimentos”. Para o poeta, a "velhez" não é  uma idade,  a "velhez"  é um tipo de vida, individual ou coletiva, que se perdeu de seu "embrião" . O embrião não está num passado remoto e morto. Mesmo o imenso rio amazonas tem seu embrião lá no alto dos Andes: mesmo há muitos anos a  correr , o rio ainda está a nascer agora, umbilicado às águas novas.  O que para o rio são as águas, para o poeta são as fontanas palavras de seu “devir-criança”:   “A palavra  até hoje  me encontra na infância.” (Manoel de Barros)








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