No livro “Van Gogh, o suicidado da
sociedade” , Artaud argumenta que Van Gogh não se suicidou, ele foi “suicidado”.
Sem dúvida, foi a mão de Van Gogh que apanhou o revólver e o colocou contra o
peito, também foi seu dedo que apertou o gatilho. Porém, a mão de Van Gogh não estava sozinha nesse ato, sozinho estava
apenas o coração de Van Gogh que recebeu o tiro, sujando de sangue a mão que sempre se cobriu com as tintas
das obras as quais deu vida. Nem sempre o gesto que um corpo faz explica,
sozinho, o sentido da ação. Quem vê o beijo de Judas pode imaginar que tal gesto é amor; quem vê o boxeador golpear o
adversário pode supor que ele golpeia com ódio. Às vezes, no entanto, um beijo
pode conter mais ódio do que um soco. A mão de Van Gogh não estava sozinha, ela
foi agarrada e forçada a fazer tal ato. Foi a mão da sociedade, ou de parte
dela, que fez a mão de Van Gogh puxar o gatilho. Essa mão deve ser a mesma que,
hoje, é chamada de “a mão invisível do mercado”, que também arma crianças pobres
com facas e revólver, pois lhes rouba o lápis e o caderno.
Quando a sociedade , ou parcelas
dominantes dela, suicida um poeta, um artista, uma criança, um idoso ou o futuro
de todos , que tribunal julgará tal crime ? Que parlamento elaborará a lei que
condenará tal assassinato? Esses que vestem terno e gravata caros e se ornam de
tronos togados não têm tintas nas mãos , nem o resíduo do giz que pôs a lição
no quadro, muito menos calos do trabalho pesado. Por mais que tentem esconder,
se olharmos bem ainda veremos nas mãos deles o sangue de Van Gogh.
( poeta, pensadora, atriz e fotógrafa, Francesca é outra "suicidada pela sociedade"):
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