quinta-feira, 31 de maio de 2018

dos rios


Platão dizia que no "Mundo das Ideias", mundo que existe acima do tempo, lá nesse mundo passa um rio de nome “Lethes”. Em grego, “lethes” significa “esquecimento”. Então, antes de “encarnar” e viver em um corpo aqui e agora, a alma deveria , lá naquele Mundo etéreo ainda , beber certa quantidade de água daquele rio, conforme o tipo de vida que escolhesse viver aqui embaixo. Se escolhesse levar uma vida voltada para as posses , vaidades e pretensões, deveria a alma beber muito daquela água. Se, ao contrário, desejasse a alma viver uma vida autêntica, deveria beber apenas um pouquinho para poder nascer em um corpo. Pois  “verdade” em grego se escreve “aletheia”, “não esquecimento”. Assim, quem muito bebe daquela água esquece da verdade de que é essencialmente  uma alma, algo incorpóreo, e passa a viver como se fosse apenas um corpo, como os bichos. Ao contrário,quem bebe pouco do rio do esquecimento da verdade  nunca se perde de si mesmo, mesmo estando em um deserto ou no meio do nada.
O rio de Heráclito ninguém sabe onde começa, tampouco onde termina. Acredita-se que ele é como a serpente a comer o próprio rabo. Quem entra nesse rio e depois sai, quando entra novamente o rio já não é mais o mesmo, nem é mais o mesmo aquele que agora entra. Esse rio é o tempo. As águas que passaram vão retornar, e as que retornam um dia já se foram, nunca as mesmas.
Diferentemente do “rio de Heráclito”, que não tem começo ou fim (e nele se entra apenas pelo meio, pelo fluxo,pelas margens), o rio que leva ao Hades, o rio Aqueronte, nasce aqui, no tempo, e morre às portas do Hades: ele tem apenas um sentido, sempre vai e nunca volta. Ele leva ao Esquecimento Absoluto. Orfeu foi até lá sem morrer ou estar morto: ele  soube encontrar um retorno contra a corrente, e subir de novo à vida sem precisar de "tábuas da salvação"  ou de barcos. Bastou-lhe apenas  a poesia em socorro para vencer a Morte.





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