O que desabre o ser é ver e ver-se.
Manoel de Barros
Eu tinha uns 17 anos, e fui eu mesmo lavar , certo dia, uma calça jeans minha. Na época, existia apenas
calça jeans escura, padrão. Para secá-la, usei o varal.Horas depois, devido ao
vento, encontrei a calça caída com uma das pernas em uma bacia . Recoloquei a
calça no varal. Na manhã seguinte, vi que não era apenas água e sabão o líquido
da bacia, havia também água sanitária, pois a perna que imergiu estava completamente
desbotada! Ao ver o acontecido, “desabriu” em mim um olhar novo. Comandado por
ele, mergulhei a calça inteira na bacia com água sanitária...
No dia seguinte, ficou pronta a obra: nunca antes vi uma calça
parecida. Era mais do que uma calça
agora : era arte nascida da vida. Ao pôr a calça, senti que vestia mais do que
meu corpo , vestia também minha liberdade. Na minha inocência, porém, imaginei que todos amariam minha re-invenção,
e aprovariam me ver vestindo
criatividade. Mas quando saí à rua fui fuzilado pelo olhar julgador dos que se
vestem com o uniforme de um viver
homogeneizado, sem arte. Tive que tomar ali a decisão mais importante da minha
vida : ou voltar para casa e vestir calça
e alma “mesmal e acostumada”, ou afirmar
minha diferença enfim vestida e conquistada.
Chegando ao colégio, um amigo do
peito gostou daquele poema que inventei sob a forma de calça. Ele quis saber como fiz aquela subversão , para fazer também a sua. E assim eu já não estava
mais sozinho.
Pollock em ação |
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