quinta-feira, 18 de maio de 2017

a flor do ipê

Ela se chamava Maria Madalena.
Nasceu na Nova Holanda, de pai desconhecido.
Aos 13 ficou grávida do traficante do lugar.
Mas pouco viveu o recém-nascido,                       
morrendo antes que soubesse andar.

Aos 15 foi viver na rua,
virou a puta de muitos a lhe usar:
seguranças, policiais, agentes sociais...
vários a exploravam muito,
sob a máscara de a querer ajudar.

Aos 18 ela parecia ter 50:
enquanto a distraíam etílicos sonhos, 
vinha um ladrão roubar seus anos,
sem dó , sem pena.

Padres, pastores, pais de santo,ungidos...
Todos diziam que a poderiam recuperar.
Um chegou a  dizer que sua vida era castigo,
culpa de outra vida, karma a lhe pesar.

Maria Madalena pegou de novo barriga,
 de novo a perdeu.
Seu corpo era todo ferida,
mas lhe doía mais a alma que enlouqueceu.

Numa fria madrugada,
ela caiu junto a um ipê perto da Lapa,
entre sacos de lixo e urina de cão.
Ela caiu perto da raiz,
e só a aurora testemunhou sua desaparição.

O ipê a sorveu para dentro de si,
a limpou de toda sujeira humana,
secou-lhe toda ferida insana,
a alimentou com seiva até dormir.
Hoje , Madalena virou beleza,
que o ipê ao céu fez florir.


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