quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Sofias...

 

Oriunda do grego, a palavra “filosofia” nasceu da reunião de duas outras palavras: “philo” e “sophia”. “Philo” significa tanto “amor” como “amizade”. Isso quer dizer que a filosofia não é prática apenas  intelectual ou racional, pois ela se nutre também de uma dimensão afetiva, expressa exatamente pelo termo “philo”.

Deleuze afirma, por exemplo, que a filosofia não é apenas Conceito, ela também é Afeto (esse termo não significa a mesma coisa que o mero sentimento   ). Espinosa ensina, por sua vez, que a filosofia é prática que se faz na Alegria. Já Epicuro menciona o Prazer ( não o prazer fugaz com isto ou aquilo, mas o Prazer de Existir). Outros, como Kierkegaard, Heidegger e Sartre, enfatizam o afeto da Angústia. Há ainda Aristóteles, para quem a filosofia começa na Admiração.

Nunca, absolutamente nunca, algum filósofo ensinou que a filosofia pode nascer do ódio, da covardia, do medo ou da intolerância. Ao contrário, a filosofia é um esforço para se tentar vencer essas “sombras”, como diria Jung, ou essas “tristezas”, nas palavras de Espinosa. E é antes de tudo naquele que filosofa que a vitória deve anunciar-se primeiro.

“Sophia” significa “sabedoria”. Assim, uma definição simples e geral da filosofia seria: “amor ou amizade pela sabedoria”, “afeto pela sabedoria”.

“Sophia” não é só teoria, fórmulas, razões. Ela também é Vida, Arte, Poesia. São a essas coisas que o filósofo dedica Afeto , não para guardar para si, mas para partilhar com os outros, com quem o lê ou ouve.

Além disso, mais importante do que ensinar sistemas e teorias, mais importante é despertar o gosto filosófico pelas questões do pensar . Essas questões não se encontram apenas em livros de filosofia, elas também vivem na poesia, na literatura, nas ciências , nas artes, enfim, na vida.

Não por acaso, “saber” e “sabor” são palavras primas, elas possuem uma origem comum. É preciso aprender a saborear as ideias e , também criticamente, saber distinguir as que são alimento daquelas que são cicuta,  veneno. Crítica e clínica, como ensina Deleuze.

Sophia também pode ser um nome próprio. "Sophia", ou "Sofia", é o belo nome que muitos pais escolhem para chamarem a quem trazem à vida. Por outro lado, “Teoria” é tão abstrato que alguém vivo não se deixa chamar assim, tampouco pode ser o nome de alguém “Razão” ou “Ciência”. Não dá para imaginar alguém se chamando “Razão”! (embora muitos imaginam encarná-la e serem donos exclusivos dela...).

 Mas assim como uma pessoa é mais do que seu nome,  Sophia  é mais do que sabedoria, ela também é generosidade, coragem, modéstia, invenção.

Deleuze chamou de “Pop’filosofia”  o agenciamento entre a filosofia e as artes, sobretudo a poesia. Pop’filosofia é Sophia empoemando, cantando, pintando, dançando, esculpindo...para assim nos fazer pensar mais plural e potentemente, pois nos faz pensar sentindo também.

Em Manoel de Barros, Sophia   também atende por outro nome:  Poesia.







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