quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Voar fora da asa

 Os canários que nasceram e permanecem  em gaiolas vivem mais a cantar do que os canários que vieram ao mundo  livres e vivem a voar .

Os canários que nasceram  livres exercem sua liberdade em mais ações do que no mero cantar. Eles cantam também, mas igualmente voam, ciscam a terra, bicam os frutos, enamoram-se, constroem ninhos, criam seus entes e lhes ensinam a voar.

 Os canários que nasceram no cativeiro apenas são livres no cantar, um canto do qual se apropria o dono que os mantém no cativeiro. Nesse canto há uma nostalgia do que nunca viveram. Seus cantos não são a expressão sonora de  asas que ousam  voar horizontes, pois são cantos estéreis de asas atrofiadas. São poetas de gabinete, são filósofos apenas de livros.                                                        

Os passarinhos livres seguem a lição que ensinou e viveu Espinosa: "Quanto mais um corpo é capaz, em comparação com outros, de agir simultaneamente sobre um número maior de coisas, tanto mais a sua mente é capaz, em comparação com outras, de perceber, simultaneamente, um número maior de coisas".

 

  

“Poesia é voar fora da asa.”

 (Manoel de Barros)

 

“Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.”

 (Manoel de Barros)

 

 “Nossos cicerones são aves cantando.”

(Cartola)

 

 

 

( o livro de Manoel é apenas uma sugestão de leitura. Manoel se autodefinia como um “sabiá de terreiro” que morre se colocado em gaiolas...) 









 

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