sábado, 11 de fevereiro de 2023

ChatGPT

 

A nova inteligência artificial  ChatGPT vem sendo tratada por certo setor da mídia como o fim dos filósofos, poetas,  escritores,  professores...

 Porém, como toda inteligência, ela é capaz de produzir apenas dentro do âmbito daquilo que pode uma inteligência. Mas o pensamento não é só inteligência, nele também há intuição, sensibilidade, imaginações, afetos...

O teste de QI, por exemplo, mede apenas a inteligência, pois   não existe teste para medir o caráter...E o pensamento também  é expressão  do caráter em sua dimensão ética: um filósofo não produz um texto só porque alguém lhe pede, isto é, sem saber os usos , intenções ou fins daquele que pediu.

Além disso, a inteligência artificial não veio para substituir poetas, professores  e filósofos. No máximo, ela é mais um poeta , professor e  filósofo; um poeta , professor e  filósofo medianos, para falar a verdade.

Assim como cada escritor tem seu estilo, a inteligência artificial também o tem, um estilo um tanto clicheroso e com  “lugares comuns” previsíveis ( feitos à medida de quem quer apenas lucrar dinheiro com eles).

Quando o professor pede para uma turma de trinta alunos dissertarem sobre  o que significa a “Caverna de Platão”, por exemplo,   provavelmente o professor  receberá trinta respostas diferentes . Mas se a mesma pergunta for feita trinta vezes à inteligência artificial, provavelmente ela dará trinta vezes a mesma resposta.

O problema não é um robô substituir o professor que ensina, grave será o dia em que quem aprende aceitar se comportar como um robô: pois robôs não aprendem, são programados...

Não são os mesmos o “virtual” da inteligência artificial e o virtual do qual nascem os pensamentos e ideias de poetas, criadores e filósofos. O virtual da inteligência artificial  está dado no sistema  , ela apenas retira dele seus textos, ao passo que o virtual do pensamento vivo nunca está dado, nem mesmo na rede material dos neurônios.

 A rede de neurônios  atualiza o virtual do pensamento em cada ideia que temos , mas sem esgotar sua potência virtual não dada. A inteligência artificial é refém de possíveis já dados, enquanto que o pensar filosófico-poético renova a realidade muitas vezes pensando o impossível.

A inteligência artificial é mais uma possibilidade-ferramenta desde que se saiba usá-la,  e não ser usado voluntária e ingenuamente por ela. E aqueles que a empregarem para burlar e fraudar, esses serão   apenas novas versões de  velhas práticas fraudulentas já existentes desde   a época em que o suporte do pensamento era o papiro...

A inteligência artificial, como toda tecnologia, não  existe para pensar “no lugar de”, e sim para possibilidades  “com”: é preciso saber agenciar-se com ela para não se ficar escravo e servo voluntário  dela.

Como ensina o poeta Manoel de Barros: “Não sou da informática, sou da invencionática.”


( este  livro é apenas uma sugestão de leitura)






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