domingo, 5 de fevereiro de 2023

o tamanho da filosofia

 

                                     O TAMANHO DA FILOSOFIA [1]

 

Qual o tamanho da filosofia? Em uma de suas Cartas[2], Sêneca nos coloca essa questão. Muitos reclamam de a filosofia ser muito ampla e ter muitas partes : ética, lógica, teoria do conhecimento, estética, poética...E que o estudo de tais coisas rouba tempo.

Mas esse tipo de grandeza quantitativa mensurável pelo tempo não traduz a autêntica grandeza da filosofia. Não são livros, disciplinas e sistemas que expressam a verdadeira grandeza e amplitude da filosofia.

Então, qual o tamanho da filosofia? Responde Sêneca: “A filosofia é do tamanho do universo”. Seria tolo quem reclamasse que o universo é muito grande...Para saber que o universo existe e que ele é inesgotável, não é necessário condicionar isso a tempo para percorrê-lo.

Quando olhamos para o céu e nos damos conta da amplidão do universo, não o vemos apenas com nossos olhos, pois esses veem apenas uma parte do universo; também vemos o universo com nosso pensamento, que assim pensa o seu todo aberto.

Ver-pensando o Universo Aberto também nos desabre, nos desegoifica, e expressa o que  Manoel de Barros chama de “horizontamento”[3].

 É pensando o universo que o pensamento descobre a si mesmo enquanto  ato o mais libertário do qual somos capazes, ele que é , como ensina Espinosa, ato-potência do próprio universo se pensando a partir de nossa perspectiva sobre ele.

Mas a maioria dos homens vive imersa em seus interesses, em suas paixões limitadoras  e opiniões reativas. As opiniões reativas os deixam mais  do que cegos: roubam seus olhos do pensamento. Assim como ignoram o universo , ignoram a si mesmos e a filosofia. Imaginam que estudá-la é perder tempo , assim como imaginam que conhecer  o universo dependeria de se percorrê-lo parte a parte .

Porém , como ensina Bergson, o filósofo se instala de imediato e  intuitivamente, com o pensamento e o corpo, na filosofia, uma vez que ele se instala , antes de tudo, na existência. É como um raio que o pensar percorre a filosofia, sempre fazendo descobertas a cada vez que a  percorre, sem esgotá-la.

Não é mera metáfora afirmar que o pensamento é luz, pois a luz é a realidade de maior velocidade. O universo somente pode ser apreendido na velocidade da luz, e o olhar que o pensa torna-se “luzeiro”. 

O universo é luz que percorre a si mesma : luz que sai de si mesma, viaja sobre si mesma e retorna a si mesma, diferente de quando partiu.

E o mesmo é a filosofia: luz que se irradia ao universo em velocidade infinita , luz  que a si mesma se revela ao pensar o universo do qual é uma expressão viva enquanto potência  afirmadora da Terra.

O estudo da filosofia não é perda de tempo, e sim ganho de eternidade. Não uma eternidade que apenas se contempla, mas a partir da qual se age no aqui e agora.



[1] Texto-aula elaborado pelo prof. Elton Luiz.

 [2] Cartas a Lucílio, “Carta 89”.

[3] Cf. poema “Canção do ver”, de Manoel de Barros.                                               




Um comentário:

cauepizindim disse...

Minha insignificância se agiganta ao contemplar o universo com vãs certezas. Daí, silencio pensamentos para poder ouvir estrelas...