Kant foi um dos principais Iluministas. O Iluminismo acreditava que a Razão é uma Luz que destrói
as trevas : o Direito, enquanto fruto dessa Luz
, é antídoto contra as trevas da força bruta; a Cultura, também fruto da
Razão, é meio para se vencer as trevas da inumanidade; o Conhecimento, fruto
maior da Luz da Razão, é arma para se vencer as piores trevas: as da
ignorância( em suas formas variadas ) .
Enfim, o Iluminismo acreditava que a Razão ,
e somente ela, garantiria o progresso do homem e das sociedades. E que a
História seria o palco desse “progresso”.
Kant expôs essas ideias no livro “À
paz perpétua”, obra que influenciou a criação da ONU após a hedionda Segunda
Guerra Mundial.
Contudo, o grande desafio dos Iluministas era explicar
a guerra: como justificar tal
monstruosidade da perspectiva “racional”?
Kant se vale então de uma imagem: não
só os “espertos” têm astúcia, a Razão também tem sua própria “astúcia”. A
“astúcia da Razão” se revela quando ela se vale de meios aparentemente pouco
racionais para realizar seus objetivos.
Até mesmo na guerra a Razão encontra um meio para prevalecer, pensava Kant.
Este é o argumento de Kant: num
primeiro momento, as guerras dispersam os homens sobre a
superfície da terra. Como a terra é finita, chega um momento no qual não é mais
possível fugir. Então, para sobreviverem
os homens são obrigados a fazerem pactos e contratos, isto é , serem racionais.
São esses pactos que , além de
trazerem a paz, tornam possível depois o
comércio dos povos, incrementando assim o progresso, que é o fim buscado pela
própria Razão. Desse modo, a “Razão Astuta”
encontra até mesmo no ódio e na
guerra um meio para realizar seus fins.
Porém, na época de Kant
as guerras eram travadas com
canhões apenas . E o planeta terra , nossa Mãe Arquetípica, era somente o palco das guerras.
Kant talvez tenha superestimado a
Razão, ou então subestimado o tamanho das trevas que se esconde dentro da alma
sombria de certos homens, sobretudo os ávidos por poder e destruição.
Se Kant tivesse dimensionado
adequadamente , creio que ele não diria que
guerra e ódio podem estar a
serviço da humanidade. Ao contrário, a guerra dos homens serve exclusivamente à
destruição sem a menor “astúcia”, uma destruição bruta mesmo, expressão visível
de uma “pulsão de morte” antivida.
Nas guerras que Kant presenciou, nosso
planeta em sua imensidão oferecia abrigo
e proteção aos vitimados pela bestialidade niilista dos homens. Porém a treva hoje é tamanha, que a própria
Mãe-Terra corre riscos diante da treva da ignorância armada com
mísseis abomináveis.
Por isso, preferimos Espinosa ao
ensinar que o pensamento realmente emancipador nunca é “astuto” : o que é libertário se mostra sobretudo nos meios que emprega para
afirmar a si mesmo. É afirmando a si
mesma que a luz fica mais potente e pode vencer
as trevas, e nunca fazendo das
trevas do ódio um meio.
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