segunda-feira, 15 de agosto de 2022

pequena homenagem aos pais

 

Sou o mais velho de cinco irmãos. Filho mais velho, dizem, precisa  dar o exemplo. Porém, quando criança eu  era vizinho de um garoto chamado Edinho. Ele era quatro anos mais velho que eu, diferença que contava bastante.

Edinho foi não só meu primeiro amigo, ele também era o irmão mais velho que eu não tinha: com ele eu podia ser um irmão caçula ( não em sangue, mas em afeto).

Foi Edinho que me despertou a vontade de querer aprender a ler, pois quando eu tinha 5 anos via Edinho sempre com  gibi na mão, lendo. Como eu o imitava em tudo, também queria aprender a ler para fazer amizade com os gibis, que tanto roubavam a companhia do meu amigo de mim.

Aos olhos do meu pai, Edinho tinha apenas um defeito : ele era “botafoguense” ( meu pai era flamenguista de “carteirinha”).

Sabendo de sua influência sobre mim, quando fiz 6 anos Edinho juntou dinheiro e me deu, como presente de aniversário, uma camisa do botafogo novinha. Não pensei duas vezes: coloquei a camisa, virei botafogo. Quando meu pai me viu com a camisa, a expressão de decepção no rosto dele era indescritível, mas ele não falou nada.

Pouco tempo depois , ele me disse: “filho, vamos ao maracanã?” Era a primeira vez que eu iria ao maraca! Era um flamengo X bonsucesso, numa quarta à noite, mais de 40 mil presentes. O jogo estava difícil, o bonsucesso tinha um bom time.

 Mas eu não estava nem aí para o jogo, eu era botafogo! E meu pai, querendo me agradar, pagava tudo o que eu pedia para comprar dos ambulantes: sorvete,biscoito, doce...

Começou o 2º tempo, ainda zero a zero. Até que, à beira do campo,  começou a  aquecer um garoto para entrar no flamengo. Meu pai me segurou no braço e disse, cheio de esperanças: “filho, não tire os olhos desse garoto que vai entrar!”

Olhei para o garoto sem entender as palavras esperançosas de meu pai: o garoto era magrinho, o uniforme o engolia... Pensei comigo, enquanto saboreava um sorvete: “Meu pai não sabe nada...”

Até que o garoto entrou...A primeira vez que ele tocou na bola, esqueci o sorvete, pois ele fez um lançamento maravilhoso que gerou o primeiro gol do flamengo. O garoto parecia um artista, um pensador da bola. Enfim, ele acabou com o jogo. Aquele foi um dos primeiros jogos do Zico.

Quando saí do maraca, esqueci o botafogo e, pela primeira vez, divergia  do meu querido amigo Edinho. De mãos dadas com meu pai , olhei para ele com meus olhos de menino e disse comigo: “Meu pai sabe tudo.”






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