Quando estava para completar 80 anos,
o poeta Manoel de Barros explicou que
uma coisa é a velhice e o acumular dos anos , outra bem diferente é a “velhez”.
A velhez não é uma idade, a velhez é quando o acumular dos dias e anos se torna um peso insuportável, não importando a
idade que se tenha : 80, 50, 40 ou 20
anos. A “velhez” é um peso que nos curva as costas para cabermos na “fôrma” que o poder quer nos
fazer caber, mesmo que nos violentando .
Essa fôrma faz nascer dentro uma “mente
acostumada”. A mente acostumada se torna refém do “mesmal”, passando a imaginar
que o “mesmal” é a vida normal. O que caracteriza o mesmal é a ação de um “poder
normalizador” que age por fora, como poder homogeneizante , e por dentro, na produção de um “espírito de rebanho”. Enfim,
o mesmal é a normalização da
anormalidade absurda e intolerável que apequena a vida todos os dias. O
problema não é o “novo normal pós-pandemia”,
a questão é que não podemos aceitar como “normal” a “banalização do mal” que
vem acontecendo muito antes da pandemia, desde que a milícia tomou conta de Brasília.
Segundo Deleuze, tudo o que é criativo e
potente está sempre “longe do
equilíbrio”. Isso vale para tudo o que tem vida, incluindo poemas e
filosofias. Toda criação
coloca o criativo longe do equilíbrio, embora de pé e ainda mais vivo.
Tudo o que experimenta a liberdade , ou por ela luta, se coloca longe dos mesmais equilíbrios. Mas o que explica o ato
criativo não é o estar longe do
equilíbrio, e sim o estar perto do perigo. Este é o preço de se ser criativo:
viver perto do perigo, o que lhe deixa longe
do equilíbrio ( “equilíbrio” que às vezes nada mais é do que adaptação
resignada à realidade dada, sem agir para mudá-la) . Quem assim está longe do
equilíbrio se assemelha a um
equilibrista que atravessa um abismo: o fio sobre o qual avança é a sua linha
de fuga. A linha não começa de um ponto ou ego, ela nasce de um novelo do qual
o fio é puxado. Uma ponta do fio que nos salva do abismo se desenrola do novelo
do pensar ativo, ao passo que a outra ponta avança se desterritorializando rumo ao horizonte
aberto , lançada ao futuro com o
máximo de força libertária que pudermos colocar em nossas palavras, ações e
gestos.
"Desfazer o normal há de ser uma norma" (Manoel de Barros)
"Desfazer o normal há de ser uma norma" (Manoel de Barros)
"O Chapeleiro:
- Estou com medo, Alice. Não gosto daqui!
Minha cabeça está
cheia...
Será que sou louco?
Alice:
- Receio que sim...
Você é louquinho.
Mas vou lhe contar um
segredo:
As melhores pessoas
são."
( foto: muro com obra de Banksy/ citação acima: trecho de “Alice no
país das maravilhas”, de Lewis Carroll)
(Sobre a imagem de Banksy: um homem a serviço da
"normalidade excludente do sistema" chicoteia crianças, pobres,
mulheres , minorias, um idoso...e até um cachorrinho vira-lata sem o
"pedigree" dos "pet's" da elite. Como chicote, o
capitalista emprega a seta que simboliza a exigência de metas e produtividades
de lucros financistas. O chicote-seta que violenta os excluídos da
"normalidade" do sistema também lembra o rabo do Diabo...)
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