domingo, 24 de maio de 2020

"Filhos da esperança"


O filme “Filhos da Esperança” (Children of Men ) se passa em 2027 . Nesse futuro próximo um estranho acontecimento assola a humanidade : todas as mulheres do mundo se tornaram estéreis, não nascia uma criança há quase 20 anos ! Por não ter mais futuro, a humanidade não tinha mais projetos, planos, cultivos. Escolas e universidades estavam fechadas. Também estavam fechadas as cadeias: para que prender alguém visando sua recuperação futura se a própria sociedade estava sentenciada à morte? O  poder não prendia: “abatia” ( como faz o governador  do Rio contra as comunidades pobres). Obras de arte que hoje valem milhões eram encontradas jogadas na rua. Simbolicamente, a esterilidade em questão é a perda do sentido do futuro. A cultura, o conhecimento, a política, tudo se tornou estéril. A única instituição que ficou mais forte era o exército, agora com sua verdadeira face: uma facção miliciana contra a sociedade. Os conservadores acham que é o passado a dimensão mais importante . Porém, mais do que conservação do passado, a vida é abertura ao futuro. Se este corre riscos, toda obra humana parece perder sentido.
Contudo, no meio do filme acontece algo extraordinário e imprevisto: uma refugiada jovem, negra e pobre, muito pobre, aparece grávida. A vida ensinava nova lição aos homens, reaparecendo não no ventre de uma mulher da elite, tampouco no altar de um templo, mas no ventre de uma marginalizada. Porém a jovem corria riscos, a milícia  a queria morta. Um personagem um tanto resignado até então decide agir e proteger a jovem grávida. Ambos fogem e se escondem em um casebre abandonado no qual nasce a criança , sendo envolta em farrapos improvisados como manta. Logo precisam fugir novamente e se escondem em um prédio em ruínas onde muitos outros refugiados também se escondiam. Diante do prédio, militares-milicianos atiravam sem parar contra os que estavam lá dentro . O barulho era ensurdecedor. De repente, como se fosse um indignado protesto contra toda aquela loucura, um chorinho começa a ser ouvido. Era o chorinho do bebê recém-nascido. Pouco a pouco, os refugiados, pondo a própria vida em risco, saem de seus esconderijos e esticam a cabeça para verem de onde vinha aquele hino da vida inocente que há muito não ouviam. Um soldado ouve o choro e cala a arma. Faz sinal para que um outro também pare. A criança era a vida a afirmar-se resistindo à morte. Era somente a simples vida, paradoxalmente tão frágil e tão forte. Com a criança no colo, a mãe passa por entre os soldados e os vence sem precisar de armas. Passa diante deles não um rei , príncipe ou figura do Poder, passa uma expressão singular da Potência. Se o Poder é dominação ,entristecimento, e se vale de armas para se fazer obedecer, a Potência é o querer viver que persevera se reinventando Novidade,  futuro que renasce, para que em nós , quem sabe, o mesmo perseverar também se refaça.









- músicas da trilha sonora do filme:





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