sábado, 26 de janeiro de 2019

o andarilho e a estrada


Zaratustra vinha por uma estrada e parou debaixo de um portal. No portal estava escrita a seguinte palavra:  “Presente”. Zaratustra então pensou: “do portal para trás fica a estrada chamada ‘Passado’, foi dela que vim. Do portal para frente fica a estrada chamada ‘Futuro’: é dela que virá o chão novo onde nunca pisei. Mas a estrada chamada Passado não começou com meus passos, ela já existia antes de eu nascer e começar a andar. Por muito que eu tenha caminhado , também há no Passado  um chão onde  nunca pisei. Será que as duas extremidades da estrada chamada Tempo, a que vai para trás e a que vai para frente, será que essas extremidades estão unidas formando um círculo? Será o tempo um carrossel infinito? Tudo o que pode criar  pernas e caminhar tem que percorrer essa estrada: não apenas gentes, mas igualmente   sociedades e até as  galáxias. É na estrada do tempo que os  seres surgem, duram e depois acabam, tornando-se então passado, aquém do Presente. Porém está sempre a  nascer a parte da estrada que começa depois do Presente: podem morrer  nossos passos, ruírem as sociedades , apagarem-se as galáxias, mas nunca chega ao fim  a estrada. Por mais que  seja longo o caminho já trilhado, a estrada antecede  todo caminhar e também surge à frente , como  trilha nova ainda a ser trilhada”.
Sempre haverá um antes que nunca foi pisado, um antes anterior a toda memória, bem como um depois muito além do que podem alcançar a crédula esperança ou a razão e sua    história. Talvez  o andarilho-artista , com seus horizontamentos,  saiba se aproximar   deste infinito enigma:  no carrossel do tempo  a girar,   a estrada anterior aos nossos passos é a mesma que como futuro chega para que possamos  avançar,  se  pernas criarmos que ousem novos passos.



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