quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

o simples não é o simplório

“Simples” vem de “sim-plex”: “sem dobra”. “Plex” é , em latim, “dobra”. Simples é o que se desdobrou . A linha de um novelo é o melhor exemplo de “simplicidade”: ela se desdobrou de um novelo, mas sem se separar dele. Um novelo é algo “complexo”: várias coisas estão dobradas nele. “Com-plexo”: “dobrado junto”. Toda simplicidade autêntica nasce de uma complexidade , isto é, de uma pluralidade heterogênea que é seu útero, e ao qual ela permanece ligada, como o fio de Ariadne nascido de seu ventre. Todo simples é a expressão de uma complexidade que ele ex-plica, isto é, “des-dobra”. Ser simples nada tem a ver com ser “simplório”. O simplório é como a linha que parte de um ponto e termina em outro, feito uma linha reta traçada com régua rígida, símbolo morto de uma Ordem Paranoica que teme a complexidade.
O que vimos ontem na posse nada tem a ver com simplicidade. Vimos , isto sim, a simplória limitação de alguém simplório, odioso da complexidade e pluralidade. Além disso, “Mito” não é apenas Ariadne, Dioniso, Orfeu...Mitos também são “Os Ciclopes”, que tinham apenas um olho na testa como símbolo de sua visão estreita. Mitos também eram as “Erínias”, divindades do ódio e da vingança. Mito também era “Procusto”, o mito dos simplórios, pois ninguém cabia na cama que Procusto construiu e forçava as pessoas a se deitarem nela . Com um machado, Procusto decepava então a cabeça das pessoas , pois somente acéfalas elas caberiam em sua cama limitada e limitadora, símbolo da estreiteza de sua concepção de mundo.

(imagem: cerca de arame farpado na posse)


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