sábado, 5 de janeiro de 2019

diferença entre o "inventar" e o "criar" e sua relação com a vida


“Inventar”  se aplica  a coisas. Celular ,  automóvel,  relógio ... existem porque foram inventados. Já o “criar” é um ato que produz  arte. Não só um poema  ou uma música são criados,  pois  também dizemos: “criei um filho”, e não “inventei um filho”; ou “criei um laço de amizade”, e não “inventei um laço de amizade”; ou “criei novas possibilidades para minha vida”, e não “inventei novas possibilidades para minha vida”. Assim falamos porque há uma percepção em nós, ainda que inconsciente, de que existir é criar e criar-se, ao passo que é coisa de rebanho viver  apenas mecanicamente, mesmo que cercado de máquinas tecnológicas .  Um celular , por exemplo, apesar de  fruto da invenção tida por avançada e moderna,  pode ser usado a serviço de uma mentalidade retrógrada ( o bozo pretende governar “via internet”...). Isto porque a inventividade produz apenas coisas; e as coisas , por não possuírem vida, podem virar instrumento de propagação e poder de  mentalidades mórbidas .  Já a criatividade produz ideias, e estas são  a vida e a saúde de uma sociedade que cria a si própria  aberta e pluralmente. O mero inventar nos faz digitadores, telespectadores, consumidores, enfim, apertadores de botão e teclas de coisas ; já a criatividade nos impele a sermos  pintores, poetas, escultores, enfim, atores de nossa própria  vida, pessoal e coletiva. É sobretudo essa potência criativa imanente , pluri e multicolorida, o alvo  deste  Estado-Pastor que  quer reduzir  tudo ao preto e branco, azul ou rosa . Em todo totalitarismo , não importa se político , comportamental ou acadêmico, são sempre os criativos os que sofrerão as maiores consequências. E são sempre deles, e neles, que nascem e perseveram as resistências.    


"A maior riqueza de um homem                                        
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio...
Perdoai                     
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.”
(Manoel de Barros)


"Borboleta é uma cor que avoa" (Manoel de Barros)



  
                                                                                                                                                                      
-sobre a diferença entre criar, inventar, imaginar e fantasiar, este livro é um dos melhores:


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