“Inventar” se aplica
a coisas. Celular ,
automóvel, relógio ... existem
porque foram inventados. Já o “criar” é um ato que produz arte. Não só um poema ou uma música são criados, pois também
dizemos: “criei um filho”, e não “inventei um filho”; ou “criei um laço de
amizade”, e não “inventei um laço de amizade”; ou “criei novas possibilidades
para minha vida”, e não “inventei novas possibilidades para minha vida”. Assim
falamos porque há uma percepção em nós, ainda que inconsciente, de que existir
é criar e criar-se, ao passo que é coisa de rebanho viver apenas mecanicamente, mesmo que cercado de
máquinas tecnológicas . Um celular , por
exemplo, apesar de fruto da invenção
tida por avançada e moderna, pode ser
usado a serviço de uma mentalidade retrógrada ( o bozo pretende governar “via
internet”...). Isto porque a inventividade produz apenas coisas; e as coisas ,
por não possuírem vida, podem virar instrumento de propagação e poder de mentalidades mórbidas . Já a criatividade produz ideias, e estas são a vida e a saúde de uma sociedade que cria a
si própria aberta e pluralmente. O mero
inventar nos faz digitadores, telespectadores, consumidores, enfim, apertadores
de botão e teclas de coisas ; já a criatividade nos impele a sermos pintores, poetas, escultores, enfim, atores
de nossa própria vida, pessoal e
coletiva. É sobretudo essa potência criativa imanente , pluri e multicolorida,
o alvo deste Estado-Pastor que quer reduzir tudo ao preto e branco, azul ou rosa . Em todo
totalitarismo , não importa se político , comportamental ou acadêmico, são
sempre os criativos os que sofrerão as maiores consequências. E são sempre
deles, e neles, que nascem e perseveram as resistências.
"A maior riqueza de um homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou
- eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito
que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o
relógio...
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando
borboletas.”
(Manoel de Barros)
"Borboleta é uma cor que avoa" (Manoel de Barros)
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