quinta-feira, 9 de agosto de 2018

o profeta, o messias e o apóstolo das ideias


Há o “candidato-profeta”, que é aquele que vive de promessas. Ele  diz   que sabe como chegar à terra  prometida impoluta , desde que se creia nele, mesmo ele  parecendo  estar perdido e seus pés sujos de  lama. Há o “candidato-messias”, que se autoproclama o ungido, o iluminado, o escolhido. Não interessam os programas e os partidos: só ele é a salvação. Ele não vai governar: fará milagres, desde que se o aceite  como  a pura encarnação da Verdade , e que se renuncie   às ideias, às regras, a si mesmo. E há o “candidato-apóstolo”. “Apóstolo” significa: “aquele que porta uma ideia,  comunicando-a com sua vida”. Ele não promete, tampouco pede obediência acrítica: ele ensina e propaga o que aprendeu. Ele se converteu em democrata , pois é a democracia a ideia que o converteu. Os candidatos-profetas vivem  a pregar o ódio aos  outros candidatos-profetas que prometem paraísos outros . Já o candidato-messias não quer cidadãos, homens livres, ele se cerca de adoradores , mesmo que medíocres. O candidato-apóstolo não promete a terra fértil lá longe, ele traz as sementes para que , em conjunto e cooperativamente, as plantemos, mas  não sem esforço. E,   quem sabe,  consigamos  reverter essa desertificação em que estamos.
( adaptei aqui o que diz Deleuze comentando Espinosa: o autêntico filósofo nunca é um profeta das ideias, tampouco um messias como incorporação da “Verdade”. O filósofo, diz Deleuze, assemelha-se a um apóstolo que ensina a potência da ideia a partir  da própria  ideia libertária que aprendeu  e o fez filósofo. Ele não quer ser obedecido ou imitado, ele deseja ser o agente de  agenciamentos, composições, bons encontros).



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