quinta-feira, 30 de agosto de 2018

indignação não é ódio


Segundo Espinosa, não se deve confundir “ódio” com “indignação”. A indignação, motor da busca pela justiça, é um afeto ativo nascido da compreensão de que  uma injustiça sofrida por outro cidadão de nós diferente   é um mau que também nos atinge, ao passo que o ódio é um sentimento reativo transformado em vontade de destruir o outro   , física ou simbolicamente, às vezes o estigmatizando como  um “Mal” . Indignação é desejo de justiça, ódio é vontade de  vingança. A indignação une os homens na luta pela justiça para todos, já o ódio os põe uns contra os outros e coloca  em perigo o todo.  O ódio é imaginação, não é conhecimento consistente das coisas . Jamais o astrônomo  conheceria adequadamente as estrelas se as odiasse, nunca um médico conheceria o remédio certo para curar uma doença se apenas a odiasse, jamais alguém pode conhecer o que é a democracia odiando quem é  ou pensa diferente. Ao contrário, é o conhecimento o processo que pode libertar o homem do ódio, desde que ele comece por conhecer a si mesmo primeiro  compreendendo  que a causa de uma limitação própria nunca tem por causa exclusiva  a diferença do outro.  Enfim, o que caracteriza um cidadão, diz Espinosa, não é exatamente votar  ou empreender negócios, mas ser capaz de se indignar com a injustiça sofrida por um outro.

 Palavra poética se une mais por afeto do que por sintaxe”(Manoel de Barros).           
                                                                                                                                                       

- imagem : “Duelo a pauladas”, de Goya. Nesse quadro, Goya quis fazer um retrato da intolerância: “Dois homens lutam a pauladas enterrados até os joelhos [a areia movediça como símbolo da ignorância: quem faz da ignorância chão, será tragado por ela]. Nenhum sentido na luta: um enfrentamento absurdo em uma paisagem árida [infértil]”.


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