sábado, 25 de agosto de 2018

multitudo X Casagrande

Não se deve confundir “popular” com “populismo”. A elite e seus partidários costumam dizer, insensíveis à urgência de quem tem fome: “dar o peixe às classes D e E é populismo. O certo é ensiná-los a pescar”.  Mas o rio comum onde vive o peixe a elite cercou, pôs seguranças armados e  diz que é propriedade dela, mesmo havendo mais peixes lá do que ela precisa. A elite também se apropriou da vara de pesca e do anzol, mesmo originalmente não sendo dela, negociando-os  a juros de agiota para acumular seu capital.
Mas o popular não é  a classe D ou E : tais classificações  fazem parte da ideologia de “pedigree” que reforça a lógica Casagrandista de que ter propriedades e dinheiro, não importando os meios , faz de alguém um superior, um   “Classe A”. O popular nada tem a ver com esse alfabeto do poder. O popular é multiplicidade horizontal sem castas, como a “multitudo” democrática de Espinosa. O popular não é pobreza, mas uma forma de riqueza que não se mede em dinheiro ou capital. O popular não é o que vende muito, o popular é o que não se deixa vender ou pescar pelos donos do sistema. O popular é uma nobreza nascida da potência criativa mestiça , e não de pedigrees elitistas pouco nobres.  A nobreza-popular se aprende na alma de Cartola,  no sax de Pixinguinha, na voz de Clementina ,  na viola do Paulinho, no lápis de Manoel: “Aproveito do povo sintaxes tortas” , ensina o poeta. “Popular” não é só um substantivo, como “povo”; “popular” também pode ser   um verbo expressando a ação de  (re)inventar um povo: “escreve-se em função de um povo por vir e que ainda não tem linguagem.”(Deleuze).
A primeira vez que ouvi a palavra “popular” foi há muito tempo, na boca do educador Darcy Ribeiro, que dizia: “ o popular não é monopólio de um único partido. Somente unidas as forças populares podem vencer a Casagrande”.


(unidos: Clementina, Cartola & Pixinguinha)











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