quinta-feira, 16 de agosto de 2018

espinosa e os meios


O sol não existe com a finalidade de fazer a planta crescer, porém a planta cresce ao compor-se com o sol. A planta não existe com a finalidade de nos alimentar, porém nos alimentamos cultivando as plantas. Nenhum ser existe para ser a finalidade do outro. Cada ser pode ser, no entanto, o meio ou instrumento que auxilie um outro ser a afirmar aquilo que ele já é. Basta o sol ser o sol, tal como ele é,  para ele ser o que de melhor existe para a planta ser a planta. O mesmo vale para as pessoas: é sendo cada um o que já é que poderá ser para o outro um bom encontro . Também é cada um sendo o que já é que poderá ser para o outro um mau encontro. O bom  encontro , inclusive, nunca é uma promessa, mas uma relação real  nascida de cada um já ser o que é, e não da promessa de cada um virar, em palavras,  outro.  A diferença entre o bom e o mau encontro  não está  em cada ser singular , mas no que cada ser pode  aumentar ou diminuir de si mesmo na relação com o outro. E isso que já somos não precisa ser do mesmo nível que o outro em termos de potência: o sol tem mais potência que a planta, porém a potência da planta somente é um “menos” quando comparada com a potência do sol. Nela mesma, a potência da planta é como toda potência, inclusive a nossa: aumentará se tiver um bom encontro, diminuirá se sofrer um mau encontro. Não é o outro ser o responsável exclusivo pelo bom ou  mau encontro:  nós também somos corresponsáveis pelos amores e  alegrias que nos acontecem   e mesmo dos ódios e  tristezas  que  imaginamos vir apenas do outro. O sol não envia as flores que a planta fabrica, mas com a energia que  o sol envia a planta fabrica flores. Uma pessoa não envia a amizade inteira  à outra, é esta que a fabrica tornando-se da amizade parte, aumentando suas energias. Uma pessoa não envia o ódio inteiro  à outra, é esta que  o fabrica fazendo-se  do ódio parte , diminuindo ela própria suas energias, enquanto potência de agir, sentir  e pensar.




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