Existe uma política na poesia
que não se confunde com a política que vai na cabeça dos políticos.
Uma política mais complexa, mais profunda ,
que é crítica da própria política,
enquanto modo limitado de ver a vida.
Paulo Leminski
Poesia pode ser que seja fazer outro mundo.
Manoel de Barros
Quem vê a imensa baleia a nadar, imagina que ela foi feita pela natureza para tal.
Quem vê o morcego a voar, imagina que ele fora feito, desde sempre, com asas.
Porém, como começou a nadar a primeira baleia? Não havia outra baleia para a ensinar.
O ser do qual proveio a baleia não era uma baleia, e seu nadar ainda não era nadar.
Talvez se assemelhasse mais a um ousar, a um arriscar, como conquista de um novo meio.
O mesmo se aplica ao ser do qual proveio o morcego.
O que hoje é voo sem receio, outrora foi salto sem ainda ter asas.
E mesmo no voo mais perfeito do morcego de hoje, ainda existe esse salto como sua causa.
Os olhos que apenas veem o que está pronto,
ignoram o ato criativo, ato poético, que preside a existência de todas as coisas,
e sem o qual não haveria a vida que vemos hoje. E sem o qual não haverá vida amanhã.
Os seres que o mundo dos adaptados imagina que estão caindo ou se afogando,
pode ser que nestes seres desprezados, incompreendidos,inúteis, marginalizados...
pode ser que neles estejam sendo esboçados o nado e o voo
que somente vão nadar e voar os seres de amanhã.
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