quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

o céu e o mar de amanhã

Existe uma política na poesia 
que não se confunde com a política que vai na cabeça dos políticos. 
Uma política mais complexa, mais profunda , 
que é crítica da própria política, 
enquanto modo limitado de ver a vida. 
 Paulo Leminski

Poesia pode ser que seja fazer outro mundo. 
Manoel de Barros


Quem vê a imensa baleia a nadar, imagina que ela foi feita pela natureza para tal.
Quem vê o morcego a voar, imagina que ele fora feito, desde sempre, com asas.
Porém, como começou a nadar a primeira baleia? Não havia outra baleia para a ensinar.
O ser do qual proveio a baleia não era uma baleia, e seu nadar ainda não era nadar.
Talvez se assemelhasse mais a um ousar, a um arriscar, como conquista de um novo meio.

O mesmo se aplica ao ser do qual proveio o morcego. 
O que hoje é voo sem receio, outrora foi salto sem ainda ter asas. 
E mesmo no voo mais perfeito do morcego de hoje, ainda existe esse salto como sua causa.

Os olhos que apenas veem o que está pronto, 
ignoram o ato criativo, ato poético,  que preside a existência de todas as coisas, 
e sem o qual não haveria a vida que vemos hoje. E sem o qual não haverá vida amanhã.

 Os seres que o mundo dos adaptados  imagina que estão caindo ou se afogando, 
pode ser que nestes seres desprezados, incompreendidos,inúteis, marginalizados...
pode ser que neles estejam  sendo esboçados o nado e o voo 
que somente vão nadar e voar os seres de amanhã.








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