Título do artigo: "Deleuze e Guattari: o gosto filosófico"
(trecho)
O batismo do conceito solicita um gosto filosófico.
(Deleuze & Guattari, O que é a filosofia? , p. 16)
Deleuze intitula pop’filosofia a
relação entre o pensar e o sentir, entre a ideia e a sensação, entre o conceito
e a imagem. “Pop” como popular. O
popular não é o massificado, o popular não é o que custa barato. Ao contrário,
custa muito o popular: custa não em moeda ou capital, mas em modéstia e gosto.
O popular não é o que vende muito: o popular é o que não se deixa vender, seja
pelo mercado seja pela potesta do
Estado. O popular não se opõe ao erudito. O popular não se confunde com classe
ou gênero. O popular não é a classe C, D
ou E. O popular é inclassificável: multitudo.O
popular é composto pelo povo que a Terra, a grande desterritorializada, pede
para si. Povo bastardo, mestiço, despossuído, “Ninguém”, como diria Manoel de
Barros: “Falar a partir de ninguém/ Faz comunhão”[1]. “Comunhão” como produção
de um agente coletivo de enunciação.
Povo ao mesmo tempo nobre e menor, como
a cartola do Angenor, como o sax de Pixinguinha. Nomadologias: agenciamento do pop com o “geo” de uma geofilosofia , para assim potencializar o
gosto pela Terra. O popular é o devir-minoritário de
cada um: “escreve-se em função de um povo por vir e que ainda não tem
linguagem”[2].
[1]
BARROS, M. Ensaios fotográficos. Record, 1996,
p.25.
[2]
DELEUZE, G. Conversações, p. 179.Nossa interpretação
acerca da natureza ao mesmo tempo estética e política do gosto, interpretação esta presente em todo o artigo,
encontra apoio no próprio Kant, que identifica o gosto ora com uma faculdade
ora com um “senso comum”. Contudo, o “comum”
referido pelo gosto não é apenas subjetivo : ele também serve de base a
um pensamento sobre a comunidade política, fato que ensejou a especulação de
que Kant ainda prepararia uma “quarta Crítica”: uma Crítica da razão política. Sobre esse tema, embora de uma
perspectiva um pouco diferente da que apresentamos aqui: PROUST, F. Kant le ton de l’histoire. Paris:Payot,
1991, p 34 e seguintes.
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