sábado, 3 de outubro de 2015

uma nova consulta ( gratuita) com o Drº Espinosa ( Clínico Geral)



Platão: "Pensar é aprender com  a morte."
Nietzsche: "Pensar é aprender com a  vida."
Espinosa: "Pensar é aprender com o eterno."

O pensamento é como um ímã:
se ele pensa o mal, o atrai;
se ele pensa o bem, o atrai.
Tales de Mileto

1-Ninguém pode dizer: “Nunca mais vou ficar gripado em minha vida!”.Pois dizer isso seria como imaginar poder fazer desaparecer, com simples palavras, os vírus e seus transmissores. Além disso,  nosso corpo é uma parte do mundo : ele possui incontáveis portas e janelas por onde  infinitas coisas entram e, por isso, ele está sujeito a   ações de seres exteriores que existem independentemente da nossa vontade.
Porém, o que está ao meu alcance é agir de tal forma que a gripe, ou o vírus que a propaga, não conte com minha ajuda para que aquilo que me enfraquece se instale em mim.A única maneira de evitar a gripe é agindo, e não meramente falando ou imaginando. Quanto mais eu agir, e pensar, mais a gripe não me pegará. Agir por amor à saúde, e não por ódio ou medo da doença.Agir em favor da saúde do meu corpo também é agir em favor da saúde do corpo social, bem como de minha mente e da mente coletiva, social.
Além disso, o que chamamos de gripe é tão somente a busca do vírus pela sua própria saúde, isto é, por fortalecer sua existência. Se olharmos as coisas de uma perspectiva não pessoal, não existe doença, existe apenas saúde, vida.E se o vírus nos provoca a doença, não é por ódio ou raiva de nós, mas por amor ao modo de ser dele, modo de ser este que ele sempre afirmará com o máximo de potência que ele tiver .
Como afirmar então nosso amor à nossa maneira de ser? Compreendendo que nosso corpo faz encontros com outros corpos, e que alguns desses corpos podem destruir o nosso, não por ódio, mas por querer afirmar a si próprio. Então, devemos compreender como o vírus age, como é seu modo de ser, e disto apenas nos tornamos capazes  quando adquirimos amor pelo conhecer, pois é ele que nos faz compreender como vive o vírus. O conhecer é a saúde da alma. Ao contrário, se imaginarmos que o vírus age por ódio ou como um enviado do “demônio”, jamais compreenderemos como vencê-lo, já que nós mesmos não teremos amor ao conhecimento: teremos na alma apenas ódio ao vírus e ao próprio conhecimento que poderia nos libertar ( nos libertar não apenas da doença que o vírus traz, como também da própria doença da ignorância).
O que vale para a gripe também se aplica aos sentimentos. Ninguém pode dizer: “Jamais sentirei ciúmes, ódio ou inveja!”. Imaginar isso seria como crer que não temos corpo, e ignorar também que este sofre a ação de outros corpos .Pior: imaginar isso seria crer que tais sentimentos existem em nós porque somos fracos, irrecuperáveis...(o que faz a alegria da indústria farmacológica ,bem como enriquece pastores espertalhões...).
Esses sentimentos podem existir em nós pelas mesmas causas que fazem existir a doença na natureza. E uma dessas causas é nossa imaginação, já que a compreensão nos mostra que, de um ponto de vista maior, não existe doença, apenas saúde.Para vencermos a tirania daqueles sentimentos, somente compreendendo como eles nascem.
Então, assim como é impossível não ficarmos gripados, é igualmente impossível não termos aqueles sentimentos. Mas assim como podemos, pela ação, evitar ficarmos gripados, também podemos evitar termos ciúmes, inveja, etc ( não, claro, isolando-se, mas pensando os encontros que fazemos, a começar pelo encontro consigo mesmo). Antes de tudo, compreendendo que o ser que nos provoca tais tristezas não o faz sozinho: nós também somos, reativamente, causa, causa parcial, daqueles sentimentos que nos enfraquecem.
Assim como só existe a saúde, apenas existe o amor. O ódio é uma gripe que apenas conseguiremos vencer se agirmos de acordo com o amor. Mas a coisa certamente não é tão fácil, pois uma simples gripe pode crescer e matar, assim como o cotidiano ódio que supomos inofensivo. 

"cambaleando...quase cai-não-cai..." ( Cartola)




2-O especialista é aquele que conhece determinada espécie. Na natureza, dizem os biólogos,  existe a “espécie Homem”, a “espécie Cão”, a “espécie Tigre”, etc.
O especialista vive em briga com o generalista. Este discursa sobre  coisas mais amplas do que a espécie: ele fala dos gêneros. Ele não fala do Homem ou do Tigre, mas do gênero Animal; ele não discorre sobre a “espécie margarida” ou sobre a “espécie petúnia”, e sim sobre o gênero flor.
O especialista acusa o generalista de não ser rigoroso; já o generalista boceja do formalismo do especialista, que acaba sendo sempre um discurso para poucos.Na filosofia, o discurso do especialista é sempre o mesmo: formal - não importando se o filósofo do qual se é especialista é Kant ou Nietzsche, Platão ou Marx. Nunca  vemos os especialistas tão felizes do que quando se encontram nos Congressos de Especialistas.
Pela sua própria maneira de ser, o especialista é um formalizador. De toda a vida que há em um pensador, ele retém apenas a forma. Ele busca as constâncias , as identidades, as lógicas.
Mas o que torna um ser singular não é o que o especifica ou o que o generaliza. Encontrar a singularidade de um pensador não é encontrar o que ele tem de específico. Achar a singularidade de um pensador não é generalizá-lo, como se ele tivesse um pouco de todos, e todos tivessem um pouco dele. Assim, só se pode encontrar a singularidade de um pensador não se sendo especialista, tampouco generalista.
A singularidade de um pensador é inespecificável, não generalizável. Sua singularidade é o que faz único: nem algo  específico, nem algo  genérico. Não são os botânicos que lidam com a singularidade das flores, mas os jardineiros. Não são os biólogos que se afetam com a singularidade dos leões ou lobos, mas os que aprendem a caçar com eles. Não é o especialista em pássaros canoros quem melhor entende o que pode o canto de um passarinho, mas o poeta que o transforma em versos, o músico que o metamorfoseia em música ou a criança que, assobiando, inventa para si um ritornelo.
Como ensina Espinosa, em cada ser singular da natureza ela , a Natureza,está inteira. Cada coisa singular é uma maneira de ser de um ser que se expressa de infinitas maneiras. Cada coisa singular é uma expressão do todo, e o todo não  é uma espécie ou um gênero. Do todo não se pode ser generalista ou especialista, do todo só se pode ser uma maneira de ser, uma maneira de ser singular ( espécie e gênero não são maneiras de ser, eles pretendem ser o “Ser” da melhor maneira).
O conhecimento de cada coisa somente se torna vivo se o compreendermos como parte de um todo não específico, não genérico. Um todo que é sem fronteiras, sem limites. Esse todo é um horizonte: uma abertura infinita, não uma altura ascensional ou uma profundidade abissal.
Tanto as espécies quanto os gêneros são coisas já prontas, e deles tratam os livros.Mas nunca está pronto o singular:pois está incluída no singular sua capacidade de afetar e ser afetado.Por isso,  nunca  podemos apreendê-lo apenas como objeto teórico, sobretudo quando se trata do singular que somos.
Não importa se um filósofo, uma flor, um bicho, um objeto exposto, um quadro, uma música...Se os olharmos com olhos apenas teóricos, procuraremos encontrar apenas de qual espécie ou gênero eles são um tipo. Mas se os compreendermos segundo suas capacidades de afetar e ser afetado, os compreenderemos segundo as relações, conexões e agenciamentos  que eles fazem, a começar pela relação com a gente mesmo e com o todo do qual somos partes.São as conexões e relações que tornam um ser único, são as relações o que singulariza. Nenhuma relação singulariza tanto quanto a relação com o infinito.É essa a relação primeira: a fazemos , antes de tudo,  ao nos relacionarmos com a gente mesmo enquanto maneira de ser do infinito, e do qual todas as outras relações dependem.
Um psicólogo lhe perguntaria: "Como você se relaciona com a sociedade?"; um psicanalista talvez lhe indagasse: "Como você se relaciona com seus pais?"; um médico especialista talvez lhe inquirisse ainda: "Como você se relaciona com a comida, com a bebida?"...O Doutor Espinosa apenas  faz uma pergunta, da qual dependem todas as outras inumeráveis perguntas ( específicas ou genéricas) que podem ser  feitas quando se quer conhecer uma pessoa: "Como você se relaciona com o infinito?"




3.Segundo o Doutor Espinosa,são cinco os afetos básicos: o amor, o ódio, a alegria, a tristeza e o desejo. Por que um número impar ? Porque é impar o afeto, ele é singular.Entre os afetos, nada mais ímpar, singular, do que o desejo.
O ódio é o contrário do amor; a tristeza é o contrário da alegria.Mas o que é o contrário do desejo?O desejo não tem contrário: não existe não desejo. O contrário do desejo é , na verdade, a sua diminuição,A tristeza e o ódio diminuem o desejo; a alegria e o amor o aumentam. Se a essência mesma do homem é o desejo, isso significa que, do ponto de vista da essência, há apenas desejo. A diminuição do desejo, ou o seu aumento, constituem a existência do homem. Cabe aqui uma observação. O amor é a passagem a uma perfeição maior acompanhada da ideia de uma causa externa. O amor é aumento do desejo.Mas este desejo que aumenta depende de algo externo para aumentar. Quando nos tornamos plenamente ativos, porém, conquistamos a plena posse do desejo, que é a plena posse de nós mesmos: então compreendemos que aquele aumentar da existência que dependia de algo externo na verdade ainda era passividade , ainda que alegre. Estar na plena posse de si mesmo não é como estar na posse de uma coisa externa. A posse  de si mesmo se assemelha à posse do pintor em relação às tintas, à posse do músico em relação aos sons, a posse do poeta em relação às Musas...É uma posse de um meio que expressão.
Enquanto não alcançamos essa posse, dependemos ainda de coisas externas que a favoreçam, que a auxiliem.O amor é um desses auxílios. Embora passivos, na dependência dele, essa dependência não nos escraviza, assim como a dependência do aluno em relação ao professor visa a tornar aquele, aos poucos, independente deste. A passividade somente é positiva quando decresce. E o que chamamos de alegria aumentando é uma passividade diminuindo. Do ponto de vista da atividade, porém, a alegria ativa, a que nasce da posse de nós mesmos,  é potência sendo exercida , sem haver mais passividade diminuindo, pois não há mais passividade ou impotência.


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