domingo, 11 de outubro de 2015

flor do abacate (2)

 A própria mente,
supondo que
abrange, analisa
e compreende todas as coisas,
conclui
que está em tudo
e tudo está nela.
Nicolau de Cusa 

Segundo afirma o filósofo Leibniz, se pegarmos uma simples semente, a de um abacateiro por exemplo, se a pegarmos e  plantarmos, dela nascerá uma árvore:um abacateiro.E do abacateiro brotarão incontáveis frutos, e dentro de cada um haverá uma semente.Se plantarmos as sementes assim nascidas, delas nascerão outros abacateiros, e em cada um deles florescerão incontáveis frutos.E em cada fruto uma nova semente.Se plantarmos cada uma, novos abacateiros nascerão e em cada um deles novos frutos com novas sementes...
Na simples semente está contida uma floresta inteira, o finito é o casulo que prende o bater de asas do infinito.A forma ou limite é a semente, mas potência é a floresta.Quem tem forma é a semente, não o infinito que está no coração dela.
Dentro de cada semente não está a floresta com suas árvores já prontas e individuadas, pois a floresta que existe dentro da semente é uma floresta em rascunho, uma floresta-embrião ;uma floresta enquanto potência de expansão e diferenciação. No interior da semente não está uma floresta com duas, mil ou um bilhão de árvores.Essa virtual floresta existe não como quantidade, mas como intensidade de uma vida que nasce de si mesma, e que o faz se afirmando. Além disso, a semente enquanto indivíduo isolado é uma abstração que não existe.Pois a simples semente que temos nas  mãos somente existe porque ela permanece ligada à potência que mora dentro dela: é esta potência que é sua razão de ser e essência, e não o inverso.
Na simples alma de uma criança está a alma da humanidade inteira, na simples palavra está o sentido que nem mesmo um bilhão de palavras podem dizer, mesmo que que fossem ditas juntas.No simples dia, para quem sabe viver, está a eternidade inteira: carpe diem...
Mas para que a floresta nasça é preciso que a semente seja plantada, cultivada, cuidada.
E feliz se torna a semente que descobre em si essa floresta, uma floresta que não cabe nela, e que a põe em estado de rascunho, de anexatidão, de deslimite, enfim, em estado de poesia.É preciso ver não apenas a floresta que está em cada semente, mas também as sementes que nascem dos frutos da floresta, de tal modo que nunca deixarão de nascer sementes enquanto das sementes nascerem florestas.
Para Espinosa, a mente singular é como essa semente:mais potência de compreensão ela obterá quanto mais ela deixar nascer a floresta que está na imanência dela. De tal maneira que o nascimento da floresta não significará em  morte da semente, mas na sua maior potência de vida, de ampliação de sua vida.Ela poderá ser reconhecida pela sua generosidade, pela sua simplicidade e pela sua capacidade de renascer no fruto que nasceu da árvore que se tornou uma potencialização sua, e não sua morte.









Frida Kahlo - Moisés ( ou  O núcleo da criação) // 1945.




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