Ouvi certa vez a seguinte história de autoria popular ( que
aqui parafraseio e interpreto): de um lado estava São Francisco, do outro o
Diabo. Separando a ambos , um muro; e em cima do muro estava alguém
que se dizia “Neutro”.
Francisco disse ao “Neutro”: “- Venha para
este lado, aqui há luz e empatia pela vida do outro.”
Do lado oposto do muro , porém, o Diabo
permanecia calado.
Vendo o “Neutro” ainda indeciso
e parado, Francisco prosseguia : “- Venha se juntar a nós
, Buda também está aqui deste lado; também estão Lao-Tsé,
Confúcio, Orixás , Tupã, Mães-de-Santo, pajés ... bem
como todos aqueles que, tendo ou não religião, agiram para defender
e libertar os oprimidos e injustiçados.”
Estranhamente, o Diabo seguia mudo, ele que gosta tanto de
se vangloriar...
Então, Francisco levantou a cabeça , olhou sobre o muro e
indagou ao que reinava na treva do outro lado : “- Por que
você permanece calado?”
“- É que esse muro onde o ‘Neutro’
está instalado pertence a mim”, disse o Diabo.
Do lado certo do
muro, o poeta Manoel de Barros assim poetizou: “São Francisco monumentou os
passarinhos.”
(obs: A postagem se apoia mais no personagem social-popular
Francisco, um personagem da literatura de cordel . Não é tratado o
tema do ponto de vista de uma religião. Inclusive , dei a entender que do lado
do muro onde está o personagem Francisco também podem estar agnósticos e até
ateus. De todo modo, hoje, dia 4 de outubro, é Dia de Francisco)
(A foto que acompanha a postagem mostra a escultura
“Cristo sem teto”, obra do escultor Timothy Schmalz; a outra imagem é a do
padre Júlio Lancelloti , que é sempre alvo de repressão da polícia quando ele,
franciscanamente, realiza seu trabalho de auxílio aos moradores de
rua e sem teto)
( trecho do filme "Irmão Sol, Irmã Lua", de Franco
Zeffirelli. Na cena, Francisco se despe do mundo do homem branco proprietário e
renasce nu, como nossos indígenas)
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