“Criar” e
“inventar” são atos diferentes. “Inventar” aplica-se a coisas.
Celular , automóvel, relógio... existem porque foram inventados. Já
o “criar” refere-se a atos cujos produtos são uma forma de arte.
“Criar” tem
origem na antiga palavra “creare”. De “creare” também se origina “crer” . No passado, “creare” significava
tanto crer como criar. É por isso que somente cria quem crê, e quem crê sempre
cria, mesmo diante das maiores impossibilidades.
Porém, não se
trata de um “crer” religioso, mas sim de um processo semelhante à crença transmutadora
do pintor que crê nas tintas, ou do músico
que crê na música, ou do poeta que crê na poesia , ou do professor que crê na educação.
Não só um poema
é criado , uma filosofia também o é. Criar uma filosofia é crer no pensar
questionador, criar um poema é crer no sentir transformador. Só cria novas
possibilidades para a vida que crê na sua potencialidade; quem não crê ,
resigna-se às impossibilidades.
Quando Nietzsche
afirma: “Só podemos destruir sendo criadores”, ele quer dizer que não basta sermos críticos/destruidores em relação a algo, pois é preciso , antes,
sermos criativos para propor algo diferente disto que criticamos. E este algo
diferente devemos nos esforçar para torná-lo real , primeiro, em nós mesmos, em
nossas palavras e ações, mas sem presunção ou arrogância, com modéstia.
É em razão dessa
diferença entre criar e inventar que também dizemos : “criei um filho”, e não “inventei um filho”;
ou “criei um laço de amizade”, e não “inventei um laço de amizade”; ou “criei
um jardim” ,e não “inventei um jardim”. Pois tais realidades que criamos também
são formas de arte nas quais acreditamos , nada tendo a ver com coisa mecânica
ou “algoritmizável”.
A inventividade
produz apenas coisas; e as coisas , por não possuírem vida, podem virar
instrumento de morte a serviço de uma mentalidade mórbida ( como os celulares
nas mãos dos f4scist4s...)
Porém a criatividade autêntica produz ideias emancipadoras e afetos ativos : ideias e afetos, como ensina Espinosa, são a vida e a saúde do pensamento.
Em todo totalitarismo , não importando se
político , comportamental ou acadêmico, são sempre os criativos os que sofrerão
as maiores consequências. E são sempre deles, e neles, que nascem e perseveram
as resistências.
( Imagem: “O
núcleo da criação”/ Frida Kahlo)
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