Manoel de Barros
dizia que seu quintal “é maior do que o mundo”. Durante anos, lendo os poemas de Manoel, frequentei esse quintal apenas com meu pensamento, com a minha mente.
Na semana
passada, visitando o Museu-Casa Quintal Manoel de Barros, consegui conhecer presencialmente o tal quintal . Pude,
enfim , passear por ele com minha mente e com meu corpo. Vi suas cores, respirei seu ar. E é
verdade, pude constatar: o quintal de Manoel é maior do que o mundo!
Não é maior em
termos daquilo que a fita métrica pode medir, tampouco é maior em importância, poder,
ostentação. Tudo o que é realmente grande , assim o é porque engrandece e torna
mais amplo o que em nós é visão, sensibilidade, percepção.
Espaço ao mesmo tempo poético, político e
clínico, o quintal do poeta engrandece e potencializa tudo aquilo que os poderes apequenadores tentam diminuir
e destruir, em nós e na natureza.
O quintal do
poeta também é grande porque ele nos horizonta. Horizontar-se não é apenas
contemplar, de longe, o horizonte. Horizontar-se
nada tem a ver com somente mirar o
Aberto a distância , sem se comprometer com aquilo que acontece no aqui e
agora.
Horizontar-se é , caminhando , atravessar horizontes e pôr o
Aberto na mente , como ideia emancipadora , para que a mente desabra por
dentro e dê rumo às pernas , para que
delas nasçam passos que sigam em frente, como “a água que corre entre as pedras”,
ensina Manoel em um de seus versos.
Assim como o libertador
Jardim de Epicuro, o Quintal do poeta é
maior do que o mundo porque põe horizontes em nossos olhos , como antídoto à visão estreita dos homens que, com suas
ganâncias, tentam apequenar a vida e o mundo.
( Imagem: o livro do poeta unido a uma foto que tirei de um detalhe do seu quintal )
Trecho do filme “Língua de brincar”, de Gabraz Sanna ( que é um dos autores do livro que organizei sobre o poeta: "Poesia pode ser que seja fazer outro mundo", lançado pela editora 7letras):
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