domingo, 8 de setembro de 2024

A mariposa

Eu ainda não havia despertado totalmente, mas já sentia no ar a presença  de um novo   dia que nascia.  De repente, ouvi um som agudo provocado por um bater de asas agitado e aflito  que passou roçando  meu rosto. Abri então os olhos:  era uma pequena mariposa que se aprisionou em meu quarto ainda um pouco escuro.

 Não sei se era  uma  jovem mariposa aprendendo seus primeiros voos,  sem confiança ainda; ou se era, ao contrário,  uma mariposa já muito vivida querendo fugir do mundo, desiludida. O que sei é que ela rodopiava atônita e perdida, como se tivesse presa   num labirinto cujo centro era um vazio .

 Levantei  da cama rápido querendo arranjar um jeito de auxiliar a mariposa a se libertar daquele rodamoinho angustiante  que ela mesma criou para se atar.

Fui   à janela e a abri toda para que entrasse  a luz. Foi então que vi o dia...Que dia! Após  uma noite  de chuva e frio , o céu abria-se   todo  azul , enquanto  o sol aquecia de novo tudo o que é vivo. 

Com cuidado, cheguei perto da mariposa  e apenas lhe disse  ( com a franqueza dos amigos que desejam o bem um do outro) : “Com um dia desse, com essa amplidão para explorar voando, você vem se enclausurar em meu quarto com medo!?Quem me dera ter suas asas...”

Juro: a mariposa foi acalmando seu  rodopiar aflito , reorientou suas asas para novo sentido , parou de antecipar na imaginação os perigos, emendou-se. Tomou coragem e atravessou    a janela, foi pro mundo, aceitou da liberdade o risco.


(Este filme, “A língua das mariposas”,  é apenas uma sugestão)







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Na maioria dos países democráticos, a festa da Independência é um acontecimento que expressa os diversos segmentos da sociedade, sendo vivida como uma festa cultural plural , pois toda independência deve ser comemorada em alegria .

No Brasil, os  milicos se apropriaram da data da Independência, como se eles fossem os tutores e donos, ontem e hoje, de nossa Independência.

Segundo o filósofo Espinosa, um processo de independência , seja a independência de um indivíduo seja a independência de uma coletividade, nunca é um processo acabado e absoluto. Todo processo de independência autêntico vem acompanhado de dependências também.

Por exemplo, o aluno depende inicialmente do professor para conquistar sua autonomia do pensar próprio; e o professor, por sua vez, depende do aluno para partilhar seus conhecimentos; o amigo depende do amigo para viver a amizade e crescer como pessoa; o Brasil depende de outros países para trocas comerciais e culturais; enfim, a humanidade depende da água,  do ar, do clima, das florestas, enfim, do planeta terra.

Indivíduos ou nações, não somos seres isolados existindo  como um todo à parte, e é por isso que sempre haverá alguma forma de dependência.

Mas há dois tipos de dependência: a dependência que serviliza e rouba a autonomia de uma das partes, cujo modelo é a relação tirano-servo (Espinosa nomeia esse tipo de dependência como “mau encontro”) , e existe  a dependência na qual há trocas, mútuas ajudas, partilhas, agenciamentos, de tal modo que ambas as partes se autonomizam juntas, sem servilismos e tirania ( são os “bons encontros”).

Nos maus encontros são gerados tristezas, ódios, preconceitos, ignorâncias, enfim, impotências; já nos bons encontros são produzidos conhecimentos e autoconhecimentos, alegrias,  saúdes,  ideias, enfim, potências.

A humanidade interdepende de si mesma para construir-se autônoma, uma autonomia que se exerce também com solidariedade  e cooperação.

Uma festa que seja realmente de uma Independência conquistada e alimentada cotidianamente pelas nossas práticas , deveria ter um desfile não com canhões , tanques  e milicos sisudos marchando uniformizados ( que fomentam, na verdade, servis dependências...).

Uma festa da Independência realmente democrática deveria ter um desfile semelhante ao  das Escolas de Samba, porém reinventado; no qual  as alas seriam compostas por povos indígenas, quilombolas, moradores  das  periferias, educadores e educandos, os diversos movimentos de minorias, artistas... E  os únicos  uniformes seriam apenas os das crianças representando as escolas públicas. 

 


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