sexta-feira, 19 de julho de 2024

Sêneca, Foucault e Espinosa: a coragem filosófica

 

Em suas Cartas a Lucílio, o filósofo estoico Sêneca procura exortar Lucílio a retornar à vida filosófica. Lucílio havia abandonado a filosofia para se dedicar à política, e estava quase se perdendo na mera busca egoica por fama, prestígio e poder[1]. Então, Sêneca procura exortar Lucílio à vida filosófica.

 Exortar é buscar despertar em alguém a coragem. E para exortar alguém à vida filosófica não se deve falar apenas de “sistemas” , “lógica”, “raciocínio” , isto é , das abstrações do intelecto. Para exortar, é preciso falar dos afetos e das situações concretas da vida nas quais estão envolvidos nosso querer , nosso desejo ,   nossas ações e escolhas.

Há ecos dessa questão em um belo curso de Foucault denominado A coragem da verdade. Não a verdade no sentido epistemológico de adequação ( adequatio) da mente à coisa, mas verdade enquanto produção de uma vida autêntica. Para Foucault , mais do que a “philia” ( o “amor”) , a filosofia pede coragem para ser vivida como modo de vida autêntico.

Além do exemplo dos estoicos e epicuristas que exerceram e ensinaram essa coragem, Foucault também cita Espinosa como aquele que viveu com a coragem que a vida filosófica pede. Por isso, não se compreende bem Espinosa apenas se atendo formalmente  ao seu raciocínio geométrico. Para compreender bem Espinosa e as implicações concretas do que ele diz , é preciso criar ouvidos para ouvir as exortações que ele nos endereça  sob a roupagem geométrica .

 









[1] Temática semelhante é abordada  por Espinosa no livro Tratado da emenda do intelecto. Mas Espinosa não se endereça a alguém em particular, a um “Lucílio”. Ele exorta  a ele mesmo primeiro para que ele possa, com seu exemplo de coragem , exortar  a  todos nós.

Nenhum comentário: