Em suas Cartas a Lucílio, o filósofo estoico Sêneca
procura exortar Lucílio a retornar à vida filosófica. Lucílio havia abandonado
a filosofia para se dedicar à política, e estava quase se perdendo na mera
busca egoica por fama, prestígio e poder[1].
Então, Sêneca procura exortar Lucílio à vida filosófica.
Exortar é buscar
despertar em alguém a coragem. E para exortar alguém à vida filosófica não se
deve falar apenas de “sistemas” , “lógica”, “raciocínio” , isto é , das
abstrações do intelecto. Para exortar, é preciso falar dos afetos e das
situações concretas da vida nas quais estão envolvidos nosso querer , nosso
desejo , nossas ações e escolhas.
Há ecos dessa questão em um belo curso de Foucault denominado
A coragem da verdade. Não a verdade no sentido epistemológico de
adequação ( adequatio) da mente à coisa, mas verdade enquanto produção
de uma vida autêntica. Para Foucault , mais do que a “philia” ( o “amor”) , a
filosofia pede coragem para ser vivida como modo de vida autêntico.
Além do exemplo dos estoicos e epicuristas que exerceram e
ensinaram essa coragem, Foucault também cita Espinosa como aquele que viveu com
a coragem que a vida filosófica pede. Por isso, não se compreende bem Espinosa
apenas se atendo formalmente ao seu
raciocínio geométrico. Para compreender bem Espinosa e as implicações concretas
do que ele diz , é preciso criar ouvidos para ouvir as exortações que ele nos
endereça sob a roupagem geométrica .
[1]
Temática semelhante é abordada por
Espinosa no livro Tratado da emenda do intelecto. Mas Espinosa não se
endereça a alguém em particular, a um “Lucílio”. Ele exorta a ele mesmo primeiro para que ele possa, com
seu exemplo de coragem , exortar a todos nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário