sexta-feira, 5 de julho de 2024

eros, psiquê & manoel

 

Eros primeiro  amou Afrodite, achando que Afrodite era tudo; até que Eros  conheceu Psiquê, esquecendo de imediato Afrodite. No início ,   Eros foi só de Afrodite;  depois  esqueceu Afrodite e passou a ser só de Psiquê. Com isso, Eros  produziu  tristeza em Afrodite , ao mesmo tempo que mantinha Psiquê ignorante de que ele já havia amado, e muito, um outro ser.

Por isso, Eros fazia de tudo para que Afrodite e Psiquê se ignorassem, como se a alegria de uma fosse a dor da outra, de tal maneira que a felicidade de ambas ele não poderia oferecer.

Na mitologia, Eros é o Amor, Afrodite simboliza o Corpo, enquanto Psiquê é a Alma.  Assim, os gregos achavam que o Amor não pode amar, ao mesmo tempo, o Corpo e a Alma.

O Corpo proporciona  prazer ao Amor, enquanto a Alma lhe faz nascer a Sabedoria ( Sophia). “Prazer” em grego é “hedon”, de onde nasce “hedonismo”. Ou o Hedonismo ou a Sabedoria:  essa deve ser, segundo os gregos, a escolha que a parte de nós que ama deve fazer.

Platão, por exemplo, fez da escolha exclusiva do Amor pela Alma a base de sua filosofia, ao mesmo tempo condenando o Corpo como não tendo, para o pensar, nenhuma serventia. Para Platão, filosofar é aprender a morrer.

Assim como Espinosa, Plotino não concordava com essa visão dicotômica opondo corpo e alma, sensibilidade e sabedoria. Segundo Plotino, a função maior do Eros-Amor , a sua utilidade suprema , não é escolher entre a Alma e o Corpo, mas fazer a Alma e o Corpo unirem-se um ao outro para viverem o ato de pensar  como paixão  pelo viver.

Em Plotino, assim como em  Espinosa, o amor não é um sentimento meramente subjetivo ou romântico. Segundo sua etimologia poética, “amor” nasce  da união da letra  “a” com função restritiva ( como em “a-fasia”: “não fala”) mais a abreviação da palavra morte ( por razões de métrica, às vezes os poetas latinos escreviam “mor” em vez de “morte”). Assim, em seu sentido originário “amor” é “não morte”, nos vários sentidos que a morte pode ter.

Amar a educação, por exemplo,   é agir  pela não morte dela ( o projeto de escola militar-fundamentalist4 representa  a morte da educação); amar a vida digna, tanto a pessoal quanto a coletiva, é agir pela não morte da democracia  (o autorit4rismo político é a morte da vida digna).

É um amor assim, antídoto contra toda forma de morte,  que também ensina  o poeta Manoel de Barros, que dizia: “Se a gente não der o amor ele apodrece dentro de nós.”


                                                 ( este livro é apenas uma sugestão)


A versão de Fernando Pessoa na voz de Bethânia:








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