Em muitas comunidades indígenas também se delibera e vota , e
várias dessas comunidades teriam muito o
que ensinar sobre democracia , até aos Gregos!
É um equívoco imaginar que o cacique é “quem manda”. Nas
assembleias dos povos indígenas a democracia é direta: cada um expressa sua
própria voz e ouve, diretamente, a voz do outro que também delibera.
Na política representativa um
deputado representa ( ou re-apresenta) o interesse de alguém ausente , ao passo
que na ágora dos indígenas cada um participa presentando-se , isto é,
fazendo-se presença diante dos outros,
seus iguais.
Nas comunidades indígenas não existe interesse privado superior ao interesse comunitário. Em grego, “privado”
é “oikos”, de onde vem “economia”. Entre os povos originários também não há
quarteis , templos ou mercado querendo se
sobrepor à comunidade.
Assim, entre os indígenas o que vem primeiro é sempre a política, e não
os interesses privados econômicos
ligados a grupos ou famílias poderosas.
Nas votações e deliberações da
democracia indígena há apenas uma condição para a decisão vitoriosa virar regra . A
condição é: a posição vitoriosa precisa ser unânime. Sendo unanimemente aceita,
ela será vista como vitória de cada um. Por isso, tal decisão unânime tornada
regra não precisará de polícias ou
repressão para ser cumprida.
Ela se torna unânime não porque uma
parte imponha a outra seu poder, mas sim em razão de precisar haver uma
compreensão de que a proposta
vitoriosa é boa para a comunidade como um todo. Quando a regra é assim, ela é
obedecida sem precisar de ameaças , pois tal regra não é lei a serviço de elites e castas. E
quando se detectava índole de tirano em alguém , aplicava-se como
punição o ostracismo.
Segundo Lévi-Strauss, entre os
indígenas a decisão vitoriosa precisava ser unânime para não gerar derrotados.
Pois derrotados podem guardar mágoas
geradoras de ressentidas
vinganças (como o Aécio Neves em 2014, hoje cúmplice do inelegível que continua a não aceitar a derrota em 2022 e , diariamente , faz suas ameaças à democracia).
Essa
sabedoria política dos indígenas
evitou que nascessem ódio internos que poderiam gerar divisões da
sociedade em castas e classes desiguais, com uns se julgando superiores aos
outros ou se achando dono da aldeia e querendo impor “Ordem” à força.
Nas comunidades indígenas, as ocas
são amplas e acolhem muitos em
igualdade, elas não são uma “Casa-grande” para
poucos privilegiados.
Nessa democracia originária não há privilégios, a não ser o privilégio de
participar da comunidade e honrar os ancestrais. E os guerreiros não são
generais que ameaçam o próprio povo supondo-o “inimigo interno”. Os guerreiros
só agem contra as ameaças externas que colocam
em risco a comunidade .
A unanimidade vitoriosa , desejo comum da comunidade, não
era portanto a imposição da vontade de um chefe ou de um “Partido”, ela era
construída coletivamente , pois o amor à aldeia era maior do que o apego de cada um ao
próprio ego. Unanimidades conquistadas assim não são “burras”, são
sábias.
-Parte do texto tem por referência este livro:
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