sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Espinosa : indignação não é ódio

 

Segundo Espinosa, não se deve confundir “ódio” com “indignação”. A indignação é um afeto ativo nascido da compreensão de que  uma injustiça sofrida por outro cidadão de nós diferente   é uma violência  que também nos atinge, ao passo que o ódio é um sentimento reativo transformado em vontade de destruir o outro   , física ou simbolicamente .

Indignação é desejo de construção da justiça, ódio é vontade de  vingança. A indignação nos une  na luta pela defesa do que nos torna dignos, já o ódio arrebanha os que fazem da ignorância bandeira e partido.

 O ódio geralmente se arma com preconceitos, intolerâncias , fake news...ou ainda  com o estúpido revólver mesmo, ao passo que a indignação se expressa não apenas em passeatas ou manifestos, mas também   na arte e pensamento críticos.

 Enfim, o que caracteriza um cidadão, diz Espinosa, não é exatamente votar  ou empreender negócios, mas ser capaz de se indignar com a injustiça sofrida por um outro. E a indignação deve ser  ainda maior , nos unir ainda mais,  quando o ódio autoritário ameaça   a própria democracia.

Pois não foi a democracia que criou a indignação , foi a indignação que criou a democracia , pois antes mesmo de existirem as leis democráticas e seus Tribunais com magistrados togados, foi a indignação corajosa de  libertários e libertárias que primeiro derrotou  a tirania medieval   que impunha  servidão e    vassalagem.

Indignação não é um ódio ao que é indigno, mas um amor ao que é digno, transformando esse afeto em  ação que nos diferencie e agencie coletivamente. A vacina não age diretamente na destruição do vírus, a vacina  fortalece nossa saúde para que esta, afirmando-se, destrua o vírus.

Certa vez, um fanático do ódio quis matar Espinosa com uma punhalada pelas costas. Rápido, Espinosa desviou do golpe. Ao invés de apenas alimentar ódio  a tal homem, Espinosa se indignou com a simbologia do covarde ato, cujo alvo não era apenas ele ,  mas  o próprio pensar livre e democrático de não importa qual tempo.

Compreender Espinosa não é  apenas decifrar  intelectualmente a lógica do seu  texto, mas fazer ressoar em nós a sua voz calma e doce, porém firme e indignada, para que ela se some à nossa e  potencialize o nosso coro plural de indignados contra a existência da fome, da desigualdade social, do feminicídio, da lgbtfobia, do fanatismo religioso, do fascismo, do etnocídio dos povos originários, enfim, indignação contra a ignorância e a  violência em todas as suas obscuras faces, incluindo a face hedionda da milícia.

Ler Espinosa é, antes de tudo, não deixar calar em nós , individual e coletivamente, essa voz da indignação pensante e atuante .

Educadora e emancipadora,  essa voz também pode ser ouvida na voz do poeta, na voz do artista e na voz de quem, aprendendo, igualmente  com ações  ensina, fazendo disso a sua perseverante prática.

 

Estes livros são apenas  sugestões de leitura:





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