Segundo Espinosa, não se deve
confundir “ódio” com “indignação”. A indignação é um afeto ativo nascido da
compreensão de que uma injustiça sofrida
por outro cidadão de nós diferente é
uma violência que também nos atinge, ao
passo que o ódio é um sentimento reativo transformado em vontade de destruir o
outro , física ou simbolicamente .
Indignação é desejo de construção da
justiça, ódio é vontade de vingança. A
indignação nos une na luta pela defesa
do que nos torna dignos, já o ódio arrebanha os que fazem da ignorância
bandeira e partido.
O ódio geralmente se arma com preconceitos,
intolerâncias , fake news...ou ainda com
o estúpido revólver mesmo, ao passo que a indignação se expressa não apenas em
passeatas ou manifestos, mas também na
arte e pensamento críticos.
Enfim, o que caracteriza um cidadão, diz
Espinosa, não é exatamente votar ou
empreender negócios, mas ser capaz de se indignar com a injustiça sofrida por
um outro. E a indignação deve ser ainda
maior , nos unir ainda mais, quando o
ódio autoritário ameaça a própria
democracia.
Pois não foi a democracia que criou a
indignação , foi a indignação que criou a democracia , pois antes mesmo de
existirem as leis democráticas e seus Tribunais com magistrados togados, foi a
indignação corajosa de libertários e
libertárias que primeiro derrotou a
tirania medieval que impunha
servidão e vassalagem.
Indignação não é um ódio ao que é
indigno, mas um amor ao que é digno, transformando esse afeto em ação que nos diferencie e agencie
coletivamente. A vacina não age diretamente na destruição do vírus, a
vacina fortalece nossa saúde para que
esta, afirmando-se, destrua o vírus.
Certa vez, um fanático do ódio quis
matar Espinosa com uma punhalada pelas costas. Rápido, Espinosa desviou do
golpe. Ao invés de apenas alimentar ódio
a tal homem, Espinosa se indignou com a simbologia do covarde ato, cujo
alvo não era apenas ele , mas o próprio pensar livre e democrático de não
importa qual tempo.
Compreender Espinosa não é apenas decifrar intelectualmente a lógica do seu texto, mas fazer ressoar em nós a sua voz
calma e doce, porém firme e indignada, para que ela se some à nossa e potencialize o nosso coro plural de
indignados contra a existência da fome, da desigualdade social, do feminicídio,
da lgbtfobia, do fanatismo religioso, do fascismo, do etnocídio dos povos
originários, enfim, indignação contra a ignorância e a violência em todas as suas obscuras faces,
incluindo a face hedionda da milícia.
Ler Espinosa é, antes de tudo, não
deixar calar em nós , individual e coletivamente, essa voz da indignação
pensante e atuante .
Educadora e emancipadora, essa voz também pode ser ouvida na voz do
poeta, na voz do artista e na voz de quem, aprendendo, igualmente com ações ensina, fazendo disso a sua perseverante prática.
Estes livros são apenas sugestões de leitura:
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