Nise da Silveira dizia que nossa saúde mental , ou a falta
dela, depende mais do que fazemos com
nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa mente .
Esse pensamento de Nise me lembra
Espinosa . Depois de filosofar sobre o Infinito empregando a potência de sua
mente, Espinosa sentia a necessidade de
empregar suas mãos para polir
cuidadosamente lentes, como um simples
artesão.
Vinha gente de longe para comprar as
lentes, tal a qualidade delas. Mas Espinosa vendia somente o necessário para
sua sobrevivência: suas mãos eram felizes em polir, não em contar dinheiro.
Creio que isso também explica a
famosa frase de Espinosa: “Ninguém sabe tudo
o que pode um corpo.” Não apenas o corpo cuja uma das partes é a mão,
pois o corpo de que fala Espinosa tem um sentido amplo e variado.
Por exemplo, o corpo do palavra: ninguém
sabe tudo o que pode o corpo da palavra antes de ela ser empregada como veículo de expressão educadora-emancipadora.
Ninguém sabe tudo o que pode o corpo
social quando se agencia , democrática e coletivamente, para não se deixar
dominar por tiranias.
Ninguém sabe tudo o que pode um
corpo, seja ele qual for, até alguém
ousar criar realidade nova empregando esse poder, essa potência.
Ninguém sabe tudo o que pode um fio,
um simples fio aprisionado em um tecido, na forma acostumada de uma roupa, de
um uniforme. Consegue descobrir tudo o
que pode o corpo de um fio aquele que
não veste uniformes e tem a alma nua, às vezes ao preço da dor, como Arthur Bispo do Rosário.
Desfazendo a forma das roupas e
uniformes com os quais o poder excludente o vestia, Bispo do Rosário desconstruiu
essas fôrmas , fôrmas físicas e simbólicas, até (re) descobrir o fio
livre que ali estava preso.
Com sua mão sendo o instrumento para
libertar criativamente sua mente, Bispo
do Rosário reinventou um Fio de Ariadne
para bordar sua linha de fuga: e por esse fio , Fio do Afeto, nossa mente também se liberta , horizonta e
sara.
( Lembrando que um dos abomináveis
atos do inelegível no âmbito da educação
foi vetar o projeto que, como forma de homenagem e reconhecimento, sugeria inscrever o nome de Nise da Silveira no livro dos “Heróis
e Heroínas da Pátria”, livro distribuído nas escolas. O ladrão de joias alegou que , por ter sido
“comunista”, Nise não era digna de ser lembrada pela pátria. Isso me lembrou o
que dizia Plotino: quando a treva quer apagar a luz, é a própria treva que assim revela sua nulidade, seu nada...)
( imagem: belíssimo livro que relata
o encontro de Nise & Espinosa, dois libertários que sempre incomodaram os
tiranos de ontem e de hoje. Nise & Espinosa : inspiradores de uma “Mátria Antifascista”)
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