sábado, 16 de setembro de 2023

Nise & Espinosa

 

Nise da Silveira  dizia que nossa saúde mental , ou a falta dela, depende  mais do que fazemos com nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa mente .

Esse pensamento de Nise me lembra Espinosa . Depois de filosofar sobre o Infinito empregando a potência de sua mente, Espinosa sentia a necessidade de  empregar  suas mãos para polir cuidadosamente  lentes, como um simples artesão.  

Vinha gente de longe para comprar as lentes, tal a qualidade delas. Mas Espinosa vendia somente o necessário para sua sobrevivência: suas mãos eram felizes em polir, não em contar dinheiro.

Creio que isso também explica a famosa frase de Espinosa: “Ninguém sabe tudo  o que pode um corpo.” Não apenas o corpo cuja uma das partes é a mão, pois o corpo de que fala Espinosa tem um sentido amplo e variado.

Por exemplo, o corpo do palavra: ninguém sabe tudo o que pode o corpo da palavra antes de ela ser  empregada como  veículo de expressão educadora-emancipadora.

Ninguém sabe tudo o que pode o corpo social quando se agencia , democrática e coletivamente, para não se deixar dominar por tiranias. 

Ninguém sabe tudo o que pode um corpo, seja ele qual for, até alguém  ousar criar realidade nova empregando esse poder, essa potência.

Ninguém sabe tudo o que pode um fio, um simples fio aprisionado em um tecido, na forma acostumada de uma roupa, de um uniforme. Consegue  descobrir tudo o que pode o corpo de um fio aquele que  não veste uniformes e tem a alma nua, às vezes ao preço da dor,  como Arthur Bispo do Rosário.

Desfazendo a forma das roupas e uniformes com os quais o poder excludente o vestia,  Bispo do Rosário  desconstruiu  essas fôrmas , fôrmas físicas e simbólicas, até (re) descobrir o fio livre que ali estava preso.

Com sua mão sendo o instrumento para libertar criativamente sua mente,  Bispo do Rosário reinventou  um Fio de Ariadne para bordar sua  linha de fuga:  e por esse fio , Fio do Afeto,  nossa mente também se liberta , horizonta e sara.

( Lembrando que um dos abomináveis atos do inelegível  no âmbito da educação foi vetar o projeto que, como forma de homenagem e reconhecimento,  sugeria inscrever o  nome de Nise da Silveira no livro dos “Heróis e Heroínas da Pátria”, livro distribuído nas escolas. O  ladrão de joias alegou que , por ter sido “comunista”, Nise não era digna de ser lembrada pela pátria. Isso me lembrou o que dizia Plotino: quando a treva quer apagar a luz, é a própria treva que assim  revela sua nulidade, seu nada...)

( imagem: belíssimo livro que relata o encontro de Nise & Espinosa, dois libertários que sempre incomodaram os tiranos de ontem e de hoje. Nise & Espinosa : inspiradores de uma “Mátria Antifascista”)




 


 




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