domingo, 10 de setembro de 2023

manoel monumentado

 

Em “Crime e castigo”, pela boca de um dos personagens do livro, Dostoiévski dizia que o corpo de Napoleão parecia ser  feito não de carne e osso , mas de bronze. 

Assim, quando Napoleão morreu ele se tornou finalmente  o que sempre foi: uma estátua dura e fria ,  um monumento de bronze erguido à loucura desmedida da ambição.

Curiosamente, quando pediram certa vez  a Manoel de Barros para que definisse sua poesia, o poeta disse: “Meus poemas são tentativas para monumentar passarinhos, arraias, ninhos, caracóis, formigas, coisinhas do chão...”

Em Manoel, monumentar não é exaltar Napoleões, mas dar dimensão existencial ampla a tudo o que é pequenino: “as grandezas do ínfimo”, explica-se o poeta.

Se em Napoleão o corpo é de bronze e a alma é bélica, em Manoel o corpo  é    potência poética acompanhada de uma  alma que fortalece  a nossa para outras batalhas, nas quais se luta por educação, arte e vida  digna.

Ao monumentar seus seres poéticos-pequeninos, o  poeta se engrandece,  se monumenta e permanece entre nós:  não como estátua morta, e sim enquanto criatividade que potencializa  nosso pensar e  sentir, auxiliando a monumentar tudo aquilo que o poder das armas , do dinheiro e da ignorância tenta destruir.


( Imagem: Manoel também foi “monumentado” na companhia de dois “pequeninos” : um passarinho no  ninho  e um caracol .  O poeta agora se encontra numa simpática pracinha sob frondosa árvore. Enquanto o Napoleão belicoso parecia ter o corpo frio do bronze,  Manoel-monumentado  faz até o bronze sorrir como gente , expressando   um coração generoso  que a todos recebe e aquece)





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