Na maioria dos países democráticos, a
festa da Independência é um acontecimento que expressa os diversos segmentos da
sociedade, sendo vivida como uma festa cultural plural , pois toda
independência deve ser comemorada em alegria .
No Brasil, os milicos se apropriaram da data da
Independência, como se eles fossem os tutores e donos, ontem e hoje, de nossa
Independência.
Segundo o filósofo Espinosa, um
processo de independência , seja a independência de um indivíduo seja a
independência de uma coletividade, nunca é um processo acabado e absoluto. Todo
processo de independência autêntico vem acompanhado de dependências também.
Por exemplo, o aluno depende inicialmente
do professor para conquistar sua autonomia do pensar próprio; e o professor,
por sua vez, depende do aluno para partilhar seus conhecimentos; o amigo
depende do amigo para viver a amizade e crescer como pessoa; o Brasil depende
de outros países para trocas comerciais e culturais; enfim, a humanidade
depende da água, do ar, do clima, das
florestas, enfim, do planeta terra.
Indivíduos ou nações, não somos seres
isolados existindo como um todo à parte,
e é por isso que sempre haverá alguma forma de dependência.
Mas há dois tipos de dependência: a
dependência que serviliza e rouba a autonomia de uma das partes, cujo modelo é
a relação tirano-servo (Espinosa nomeia esse tipo de dependência como “mau
encontro”) , e existe a dependência na
qual há trocas, mútuas ajudas, partilhas, agenciamentos, de tal modo que ambas
as partes se autonomizam juntas, sem servilismos e tirania ( são os “bons
encontros”).
Nos maus encontros são gerados
tristezas, ódios, preconceitos, ignorâncias, enfim, impotências; já nos bons
encontros são produzidos conhecimentos e autoconhecimentos, alegrias, saúdes, ideias, enfim, potências.
A opinião de que a independência é um
processo absoluto e de que nada depende, é uma visão narcísica, egoica; no plano das nações, tal
ideia de independência ensimesmada alimenta a paranoia entre as nações, prato
cheio para os nacionalismos militaristas.
A humanidade interdepende de si mesma
para construir-se autônoma, uma autonomia que se exerce também com
solidariedade e cooperação.
Uma festa que seja realmente de uma
Independência conquistada e alimentada cotidianamente pelas nossas práticas ,
deveria ter um desfile não com canhões , tanques e milicos sisudos marchando uniformizados ( que
fomentam, na verdade, servis dependências...).
Uma festa da Independência realmente
democrática deveria ter um desfile semelhante ao das Escolas de Samba, porém reinventado; no
qual as alas seriam compostas por povos
indígenas, quilombolas, moradores das periferias, educadores e educandos, os
diversos movimentos de minorias, artistas... E
os únicos uniformes seriam apenas
os das crianças representando as escolas públicas.
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