Para Espinosa, o
entendimento nunca interpreta, e sim compreende. Compreender e interpretar são
atividades diferentes da mente. Compreender é atividade do entendimento ,
interpretar é atividade da imaginação.
Toda interpretação incide
sobre signos. Um signo é um tipo de realidade que não extrai seu sentido de si
mesmo, mas de outra coisa. Uma palavra escrita, por exemplo, é um signo que
remete ao autor que a escreveu; uma pegada na areia , por sua vez, é uma marca-signo que aponta para
alguém que por ali passou.
Um signo , portanto,
sempre remete a outra coisa que ele mesmo: entre ele e essa outra coisa há um
intervalo, um espaço, uma ausência. É a
imaginação que vem ocupar esse espaço-ausência, e aqui reside o perigo que pode
haver em toda interpretação, uma vez que imaginar não é conhecer, não é pensar.
O entendimento, ao
contrário, apreende as próprias coisas , seus movimentos e relações , e não os signos que elas deixam . O entendimento se instala no que é, e não em
ausências.
O risco da imaginação é quando aquele que interpreta imagina que está conhecendo as próprias coisas, não percebendo dessa maneira que sua interpretação é apenas uma interpretação. Quem não percebe que imagina, delira que sua interpretação é um acesso único e privilegiado às próprias coisas, não admitindo assim interpretação diversa da sua. E isso é ainda mais perigoso quando essa interpretação imaginativa-delirante ambiciona poder político, ou melhor, poder teológico-político.
O homem da imaginação delirante imagina Deus por intermédio de signos que requerem obediência, já Espinosa compreende a Natureza Naturante como Causa Imanente de tudo o que existe, assim aumentando nossa potência de pensar livre, sem obediência e submissão a poderes delirantes. A imaginação delirante propaga medo e superstição, o entendimento que compreende desperta amor e alegria.
A interpretação-imaginação somente atinge sua plena potência e positividade na arte, quando interpretamos um poema, um
filme, uma exposição, enfim, uma obra de arte que a gente , antes de tudo, sente pensando, pensa sentindo. Aqui, compreendemos a própria potência
da imaginação como arte de preencher vazios e dar sentido às nossas experiências/vivências, uma vez que na arte os signos não remetem à outra
coisa, mas à potência que eles têm de expressarem, criando,
o sentido.
Na filosofia e na ciência, o entendimento pode até se valer da imaginação e suas imagens como auxiliar didático. Porém, na filosofia e na ciência é sempre a compreensão que vem primeiro , e se coloca como meio que orienta o interpretar da imaginação ; ao passo que na arte o interpretar se mostra como potência da imaginação ativa , que assim expressa, por imagens, sons e cor, aquilo que o entendimento compreende por meio das ideias.
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