quarta-feira, 15 de junho de 2022

procustos, ontem e hoje

 

Os cúmplices do fascista-miliciano ainda insistem em chamá-lo de “mito”. Nem todo mito ensina sobre coisas dignas como a beleza ( Afrodite), as artes ( Dioniso), a justiça ( Zeus) e o conhecimento ( Atena). Há mitos que tratam da violência ( as Fúrias) e da ignorância e sua visão estreita ( os Cíclopes).

As Fúrias e os Cíclopes representam forças negacionistas e destruidoras que, ao longo da história, saem do submundo sombrio onde se escondem e ganham novos rostos e nomes : Mussolini ,Hitler, Pinochet , Ustra , os assassinos de Marielle...

Mas há outro mito que me lembra o miliciano . Trata-se de “Procusto”. Esse nome significa: “Aquele que violenta, tortura, decepa, corta...”.

Procusto queria subir ao Olimpo  , porém não tinha dignidade e nem valor para isso. Então, fingindo-se preocupado com a dor e sofrimento dos seres humanos, armou  um plano para ganhar adeptos que o apoiassem em seu projeto de poder  para galgar o Olimpo e tomar o lugar de Zeus e Hera, divindades da ética e da justiça.

Ardiloso e dissimulado, Procusto veio para perto de uma estrada por onde passavam pessoas cansadas, dizendo que queria oferecer para elas um amparo, um cuidado, mostrando assim que ele era um “ser do bem” e fiel aos deuses.

Procusto lhes ofereceu então uma cama. Porém, quando as pessoas se deitavam na tal cama acontecia o seguinte: às vezes, sobravam da pessoa as pernas e a cabeça. Procusto pegava um machado e lhes decepava as pernas e a cabeça. Noutras vezes, a pessoa que se deitava era menor do que a cama. Procusto amarrava os membros da pessoa com uma corrente e puxava com força , acabando por desmembrar as pessoas.

Indignadas, as pessoas protestaram contra Procusto: “Ao invés de ser um amparo, sua cama é uma sentença de morte!”

Frio como todo ser desprovido de empatia, Procusto se limitou a puxar do bolso uma régua e passou a medir com rigidez militar a cama. Depois, virou-se para as pessoas e , ameaçando, disse: “Do que vocês estão reclamando!? A régua não mente...Acabei de medir minha  cama: ela é perfeita, homogênea ,cada lado é igual ao outro. Se há alguma imperfeição, ela está em vocês que , por serem heterogêneos e diferentes, não cabem na perfeição da minha cama!”

A cama tolhedora de Procusto pode receber ainda outros nomes: “minha Religião”, “meu Dogma”, “minha Pátria Verde e Amarela dos homens de bem”... Essas camas da ignorância negacionista têm o tamanho da pequeneza: só cabe nela quem aceita ficar acéfalo, sem cabeça; ou diz “amém” servil e , sem pernas, põe-se de joelhos.

Isto é o que os Procustos de ontem e de hoje  mais temem e os deixa paranoicos: a multiplicidade e heterogeneidade social que, agenciada, cabe apenas em lugares abertos, plurais, horizontados. E por esses lugares resiste e luta.

 

( este livro é apenas uma sugestão de leitura)



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