Segundo Espinosa, quanto mais o corpo
e a sensibilidade são afetados de muitas
e diversas maneiras, mas a mente enriquece sua compreensão da realidade,
nascendo igualmente nela um pensar diverso
e múltiplo.
Corpo, afeto e sensibilidade não
atrapalham ou diminuem o pensar da mente; ao contrário, corpo, afeto e
sensibilidade potencializam o pensar da mente fazendo despertar nela,
igualmente, ouvidos, tato, gosto e olhos para compreender a vida concretamente.
É por seguir essa lição de Espinosa
que sempre coloco imagens e música acompanhando os textos que posto aqui para
as amigas , amigos, alunos e ex-alunos.
Há sentidos que música e imagem
expressam melhor do que a palavra escrita, e toda palavra escrita diz mais do
que mera palavra quando o que ela diz também podem dizer , de formas
diferentes, a música e a imagem, tanto a imagem da pintura como a imagem-movimento
do cinema.
Quando apenas a mente aprende, fica
só a teoria; quando é apenas o corpo, nada há senão técnica.
Mas quando mente e corpo aprendem
juntos e em “concílio”, como diz o poeta-filósofo Lucrécio, compreendemos então que pensar, sentir e agir são inseparáveis , como também são
inseparáveis a ética, a estética, a política
e a educação, quando libertárias.
Quando mente e corpo participam
juntos de um aprendizado, o que se aprende não é apenas teorizado ou reproduzido mecanicamente, e sim
vivido e partilhado.
Espinosa assim ensina: “Ninguém sabe
tudo o que pode um corpo”, isto é, ninguém sabe tudo o que pode a potência de
um corpo e sua capacidade de
resistir, agir, perseverar.
Ninguém sabe tudo o que pode um corpo
até que o corpo , agindo , nos ensina a criar. E quando a mente agencia seu pensar com
o corpo, também a mente ninguém sabe tudo o que ela , pensando, é capaz de
criar.
O corpo de que fala Espinosa não é
apenas o nosso corpo individual com seus
braços e pernas; o que ele diz também se aplica ao corpo da palavra( cuja alma é
a ideia que faz pensar), ao corpo do som
( cuja alma é a música que afeta) , ao corpo das tintas (cuja alma é um ver que
potencializa nossos olhos) , enfim, o que ele ensina também se aplica ao corpo
social ( cuja alma é a resistência democrática pela vida coletiva digna).
“Poesia é para escrever com o corpo.”(Manoel de Barros)
(Imagem: “Espinosa”, cuja paleta é
multicor)
-Este filme de Wim Wenders sobre Pina nos faz compreender aquele
ensinamento de Espinosa: “Ninguém sabe tudo o que pode o corpo”:
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