sábado, 15 de janeiro de 2022

Espinosa: "Ninguém sabe tudo o que pode um corpo"

 

Segundo Espinosa, quanto mais o corpo e a sensibilidade são  afetados de muitas e diversas maneiras, mas a mente enriquece sua compreensão da realidade, nascendo igualmente nela  um pensar diverso e múltiplo.

Corpo, afeto e sensibilidade não atrapalham ou diminuem o pensar da mente; ao contrário, corpo, afeto e sensibilidade potencializam o pensar da mente fazendo despertar nela, igualmente, ouvidos, tato, gosto e olhos para compreender a vida concretamente.

É por seguir essa lição de Espinosa que sempre coloco imagens e música acompanhando os textos que posto aqui para as amigas , amigos, alunos e ex-alunos.

Há sentidos que música e imagem expressam melhor do que a palavra escrita, e toda palavra escrita diz mais do que mera palavra quando o que ela diz também podem dizer , de formas diferentes, a música e a imagem, tanto a imagem da pintura como a imagem-movimento do cinema.

Quando apenas a mente aprende, fica só a teoria; quando é apenas o corpo, nada há senão  técnica.

Mas quando mente e corpo aprendem juntos e em “concílio”, como diz o poeta-filósofo Lucrécio,   compreendemos então que pensar, sentir  e agir são inseparáveis , como também são inseparáveis a ética, a  estética, a política e a educação, quando  libertárias.

Quando mente e corpo participam juntos de um aprendizado, o que se aprende não é apenas  teorizado ou reproduzido mecanicamente, e sim vivido e partilhado.

Espinosa assim ensina: “Ninguém sabe tudo o que pode um corpo”, isto é, ninguém sabe tudo o que pode a potência de um  corpo e sua capacidade de resistir,  agir, perseverar.

Ninguém sabe tudo o que pode um corpo até que o corpo , agindo , nos ensina a  criar. E quando a mente agencia seu pensar com o corpo, também a mente ninguém sabe tudo o que ela , pensando, é capaz de criar.

O corpo de que fala Espinosa não é apenas  o nosso corpo individual com seus braços e pernas; o que ele diz também se aplica ao  corpo da palavra( cuja   alma é a ideia que faz pensar), ao corpo do  som ( cuja alma é a música que afeta) , ao corpo das tintas (cuja alma é um ver que potencializa nossos olhos) , enfim, o que ele ensina também se aplica ao corpo social ( cuja alma é a resistência democrática pela vida coletiva digna).

 

“Poesia é para escrever  com o corpo.”(Manoel de Barros)

 

(Imagem: “Espinosa”, cuja  paleta  é multicor)




-Este filme de Wim Wenders sobre Pina nos faz compreender aquele ensinamento de Espinosa: “Ninguém sabe tudo o que pode o corpo”:



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