Em sua Poética, Aristóteles define a poesia como “imitação”: a poesia imita a vida. Logo, segundo ele, a poesia não é a vida, pois o que faz da poesia poesia, isto é, arte-ficção, é que ela não é a vida. Somente a filosofia, argumenta Aristóteles , pode conhecer e pensar a vida. O poeta imita a vida por intermédio de imagens, ao passo que o filósofo pensa-conhece a vida por meio de conceitos.
Mas acontece algo curioso e que dá o que pensar nessa referida obra de Aristóteles. Quando ele se refere aos pré-socráticos, Aristóteles reconhece que eles escrevem em versos, porém os versos dos pré-socráticos não são poesia, seus versos não são como os de Hesíodo ou Homero.
Os versos dos pré-socráticos não são imitação da vida, eles querem pensar a vida, mas sem empregar os conceitos. Ou melhor, nos pré-socráticos a imagem e o conceito caminham umbilicados .
Porém, Aristóteles não considera os pré-socráticos poetas ou filósofos , ele os chama de “fisiólogos”: algo acima do poeta, contudo abaixo do filósofo.
"Fisiólogo" vem de "physis": a "natureza" enquanto potência inesgotável que fontaneja. O fisiólogo é aquele que fia e tece a palavra que desdobra o sentido que brota na e da natureza.
Não por acaso, Nietzsche, Deleuze e Heidegger retornam aos pré-socráticos para renovarem a filosofia desfazendo a opinião aristotélica de que a filosofia está acima da vida. Esse colocar-se acima da vida é, na verdade, um negar a vida, o corpo e a existência.
Nos pré-socráticos, portanto, há poesia. Mas não é poesia enquanto forma literária. A poesia dos pré-socráticos é um “poetar originário”: experiência singular nascida da indiscernibilidade entre a arte e a vida.
A poesia dos pré-socráticos não imita a vida: ela é a vida pensando a si mesma, sentindo-se. Vida que é, ao mesmo tempo, a realidade primeira a ser pensada e os meios expressivos desse pensar uno, porém aberto e afirmativo do existir múltiplo.
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